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O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88.


Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis.

A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao conhecimento, disciplina e habilidades motoras é fundamental. Bem como, também, o contato afetivo com a mãe (principalmente) ou outra pessoa que nutra laços afetivos fortes com o pequeno ser humano. Há casos avaliados cientificamente de que a falta de contato afetivo, do olhar fraterno, causa deformidades irreversíveis nos cérebros e respectiva trajetória de vida. (ver: https://www.youtube.com/watch?v=6kRCf5vvIhU)

No Brasil a máxima de avaliar investimentos com base no seu retorno e no seu valor presente parece só ser uma verdade para o mercado financeiro - exatamente esses vilões dos mais pobres. Contudo, se essa métrica fosse empregada, poucos no país poderiam se queixar das condições iniciais extremamente desiguais e que podem determinar o futuro, indicando que, aqui, nosso futuro é previsto por um passado o qual não temos controle. Por isso, se você nasceu pobre, terá uma probabilidade muito maior de continuar sendo, e se nasceu rico o raciocínio é análogo. Isso causa um desconforto e uma ruptura no tecido social, uma vez que, a sociedade moderna incute a ideia de que o mérito é o fator a ser considerado para a ascensão social. Para o brasileiro esse argumento é falacioso.

Na educação a avaliação do investimento é bastante simples - mas não óbvia. Um investimento em educação é "rentável" se os custos com o mesmo são menores do que o retorno. Esse retorno pode ser apenas pela ótica do indivíduo, ou seja, em termos de salários. Portanto, um jovem que está pensando se acessa o segundo grau precisa internalizar os custos de oportunidade, mais o custo contábil, e se terá o custo econômico de se fazer segundo grau. Na minha conta, tem-se que, durante o ensino médio o jovem deixa de perceber uma remuneração (média da PNAD) de R$16.043,52. Logo, como custo de oportunidade, o jovem tem que internalizar o VPL dos três anos que passa no segundo grau, ao invés de estar trabalhando (uma possibilidade). Além disso, o custo por aluno no 2º grau é de R$5.750,00. Mas a sua remuneração após formado é de R$21.214,80. Analisando então um horizonte de trabalho de 45 anos (com a reforma da previdência) tem-se um resultado líquido de R$ 22.023,40 (a juros reais de 5% a.a.) e com uma taxa de retorno de 7,078% a.a. 

A análise acima é feita para um indivíduo apenas, mas se levarmos em consideração de que 1/3 aproximadamente dos alunos ingressantes no 2º grau evade. A conta deveria ser multiplicada por um total de 750.000 alunos. Ou seja, no Brasil hoje o PIB poderia ser maior em 16,5 bilhões de reais a cada ano. Portanto, a despeito da nossa preocupação com desperdícios de recursos na educação. Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Ou seja, um retorno de quase 500%. Mesmo com um custo da dívida de 13% a.a. (ainda bastante alto). A sociedade deveria continuar financiando a educação mesmo se endividando. Pois teria um elevado investimento.

Note, para concluir, que essa ótica é apenas para o indivíduo. Se levarmos em consideração as externalidades geradas por uma sociedade mais educada, teríamos um gasto menor com segurança pública, assistência social, sistema jurídico e prisional. Além disso, uma sociedade mais educada tende a votar melhor, pois consegue avaliar de maneira mais precisa as decorrências das ações dos políticos. 


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