O comércio internacional sempre foi o motor da economia mundial. Em um mundo onde viver em comunhão é garantia de sobrevivência, os humanos passaram a definir seus territórios, plantando, colhendo e produzindo seus próprios alimentos, conseguindo com isso fundar os primeiros povoados. No entanto, assim que as primeiras cidades foram fundadas, o comércio passou a ser rotina constante, dado que nem sempre se consegue produzir tudo o que o desejo alcança.
Na Atenas do séc. VI a.c., por exemplo, haviam dois grupos de produtores mais ou menos organizados, os primeiros produziam azeites e vinhos, os segundos grãos em geral, principalmente trigo. Os primeiros compravam os grãos em troca dos vinhos e azeites produzidos. Até que em um determinado momento, a produção de grãos passou a rivalizar com agricultores do leste europeu. Permitindo que os produtores de azeite passassem a importar grãos ainda mais baratos. Esse fato literalmente quebrou a dinâmica econômica dos plantadores de grãos que ao se endividarem, davam como garantia suas propriedades, filhos e até a própria liberdade. Falar em perigo moral nessa época era até pecado.
Em rota de guerra civil, a Atenas desse período só não rachou pela perspicácia do primeiro inflacionista, ou seria, o primeiro keynesiano. Já nessa época, o estado ateniense cunhava suas próprias moedas, que eram basicamente de prata e cobre. Como o primeiro mineral é muito mais valioso, Sólon promoveu um aumento da base monetária subindo a porcentagem de cobre em suas moedas, permitindo que os agricultores do sul, mais pobres, pudessem pagar suas dívidas. Como?
A primeira medida de Sólon foi utilizar o novo dinheiro para comprar de volta os parentes dos agricultores, proibir a escravidão como forma de pagamento da dívida. Injetou mais dinheiro na economia através de um amplo programa de compras públicas, fazendo com que a desvalorização de sua moeda permitisse os agricultores terem vantagens competitivas com o do leste europeu. Evitou com isso com que sua cidade-estado entrasse em colapso e guerra civil.
A genialidade de sua medida é entender que a moeda representa valor e quem garante essa representação é o Estado. Sabendo regular o mecanismo que faz com que a moeda possa ser entendida como algo valioso (e portanto escasso) Sólon garantiu que sua economia pudesse voltar a girar, implementando um dos primeiros programas de políticas de renda que se tem notícia. Entendeu que a economia não é apenas como um amontoado de identidades macroeconômicas, mas algo interligado com as necessidades reais da sua sociedade.
Obviamente correu um sério risco de promover uma hiperinflação tal qual acometeu o já decadente Império Romano dos primeiros séculos depois de Cristo. Mas em momentos de contração econômica, com parte da economia literalmente inviabilizada pela falta de dinheiro em circulação, seu plano econômico deu muito certo. E garanto que pelos resultados provavelmente foi muito mais engenhoso que o New Deal ou o nosso famigerado PND ou sua versão mais moderna e mais burra, o PAC.
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