A destruição de riqueza no triênio recente (15-18) é talvez sem prescindentes na história do Rio de Janeiro. Para se ter uma ideia, desde o séc. XVII o Rio é um importante entrave comercial e rota marítima entre Europa e Ásia, bem como caminho necessário para o transporte naval em direção ao peste do continente americano. Apenas no início do séc. XX, a travessia entre os dois lados do continente pode ser antecipada através do canal do Panamá, fundado em 1914.
Assim, já desde o início do primeiro reinado o Rio sofreu o seu primeiro surto inflacionário, com uma elevação dos preços dos imóveis, impulsionada sobre tudo pelos mais de 20 mil membros da corte portuguesa que chegaram ao Brasil entre 1808 e 1810 fugidos da invasão de Portugal por Napoleão, em uma das mais arriscadas manobras políticas e estratégicas do século XIX. Dom João VI entre poucos déspotas da época, manteve-se como rei de seu nascimento até sua morte. Poucos puderam, em um período tão conturbado da história, conduzir sua autoridade meramente hierárquica com tão êxito, principalmente valendo-se de tão poucas virtudes.
Durante todo o século XIX e início XX o Rio presenciou uma das mais impressionantes transformações geográficas, paisagísticas e arquitetônicas da história. Praias, praças, aterros, ruas, avenidas e inclusive morros foram removidos, criados e alterados. A trajetória da cidade e sua vocação como capital cosmopolita do Brasil foram bem aproveitados até a guinada republicana, tendo como ponto culminante a sua destituição como capital federal na década de 50 do séc. passado.
A partir daí, o Rio e sua região metropolitana passaram por uma sucessão de transformações que impulsionou-a na direção errada do desenvolvimento econômico e social. As favelas já comuns, mas que promoveram cidadãos ilustres como Joaquim Maria (Machado de Assis) passaram a ser reduto de movimentos para estatais, que passaram a rivalizar com o Estado o monopólio da violência. Dentro desse oligopólio, nenhum cidadão estaria a salvo, e o recrudescimento dessa violência segue patamares alarmantes a partir da déc. de 80.
Outras capitais mundiais também estavam envoltas desse tipo de situação. Mas a tecnologia de combate ao crime mudou, e consequentemente, o Estado passou a ser mais eficiente no combate aos concorrentes para-legais da violência. Menos no Rio. Neste estado, ao contrário, houve na realidade uma simbiose entre Estado e Organizações Criminosas (ORCRIMS).
As Orcrims estão hoje inseridas em todos os espaços públicos, sejam físicos sejam eles burocráticos. Passaram a comandar as políticas públicas, e a se alimentar do aparato estatal, sejam físico seja humano, como é o caso das milícias. Agora, assassinam representantes políticos avessos a sua ideologia. E assim, sob o nariz das instituições republicanas hoje o Rio parece não ter solução. Pois, assim como o efeito de drogas de melhoria de performance, a corrupção melhorou a atuação da corrupção local, que conseguiu atrair grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas. Ambas manobras eivadas pela mesma lógica cleptocrática que hoje o estado está envolto.
Irmão bivitelino da corrupção, a inépcia da gestão pública, só pode ser sustentável através de dutos financeiros ilícitos. Dois destes dutos, construção civil e transporte público alimentaram políticas públicas anti-intuitivas e contraproducentes. Incentivando uma expansão desordenada da urbanização fluminense em direção a vazios demográficos, antes bem estabelecidos, que agora são alvos de processo de grilagem, originando crimes e desespero para os antigos moradores.
Como fator empírico dessa maquiagem, deixo os dois gráficos abaixo que demonstra o poder destrutivo da corrupção, violência e despreparo. O estado perdeu já 3.5% de sua massa financeira associada a valor de mercado do seu m2. Assim como o artigo de Tiebout (1956) demonstra, a provisão de bens públicos é princípio revelador da preferência dos eleitores. Acredito que um estudo de caso para o Rio possa servir como um ótimo e irrefutável contraexemplo para a sua teoria.
Aos poucos tenho lido os artigos, este reflete bem o tamanho do buraco que cavamos no estado do Rio. Não tenho os números finais mais a quantidade de recursos que o estado recebeu em função dos eventos mundiais que ocorreram em contrapartida aos benefícios que as áreas mais carentes como educacao e saúde chegam a doer no peito. Acho que nenhum estado da federação tenha recebido tantos recursos em tampouco tempo como aqui e pouco foi aproveitado, a não ser claro pelas quadrilhas estabelecidas que se apropriaram do Rio.
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