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Educação e Desigualdade no Brasil são endógenas

Parece piada falar que a educação perpetua desigualdade, quando na realidade toda a literatura indica que países que investem em educação conseguem reduzir a desigualdade social e elevar a mobilidade social, esta ainda pouco compreendida pelo senso comum. Desigualdade pode ser mensurada pela distribuição de renda pela população, um país sem desigualdade é aquele em que todos ganham a mesma renda -  com isso, a distribuição de riquezas seria uniforme, e todos teriam a mesma probabilidade de auferirem a renda média.

Já mobilidade significa a probabilidade de um indivíduo de renda entre os 50% mais pobres pular pelo menos 1 p.p. na distribuição de renda. Com isso, um país sem desigualdade não teria a possibilidade de haver mobilidade. Mas, um país com desigualdade, como o nosso, só pode resolvê-la através da mobilidade. E o estudo para tal é condição necessária.

O estudo na economia se traduz por qualquer investimento em capital humano, por isso estudar não é mais um verbo transitivo direto, em que se responde o quê. Agora é multitransitivo, pois se estuda algo, em algum lugar, de alguma forma, em algum período e tudo isso é o tal do QUÊ (substantivo). Assim sendo, o estudo foi reinventado em vários lugares. Os mais exitosos podem ser facilmente observados pelos seus resultados internacionais, não apenas em testes padronizados, como também pelos seus resultados econômicos e sociais, como é o caso dos países nórdicos, e asiáticos como destaque: Finlândia, Coréia do Sul e Japão. Ambos, cada um a sua maneira, ou seja, com modelos distintos, alcançaram a excelência nessa difícil tarefa. Fatores comuns, no entanto, podem ser definidos e o principal deles é a valorização da profissão e do papel do PROFESSOR.

No meu artigo Professores Experientes Alunos Ausentes eu abordo a questão da carreira do magistério básico, demonstrando que todos os incentivos estão invertidos, levando os melhores professores a saírem da carreira, possivelmente migrando para outros modais de ensino, como o médio ou superior, cuja remuneração básica é superior. O desencantamento com a profissão, junto com a desvalorização, violência e altas cargas de trabalho, também tem levado professores a migrarem para outras carreiras, cuja remuneração é maior, bem como a qualidade laboral também. 

Se perdemos os melhores professores, como esperar bons resultados?

Quando analisamos o custo por aluno, percebemos o maior hiato entre ensino superior e básico de todos os países contemplados na amostra da OCDE. Gastamos pouco por aluno com o ensino básico e muito com ensino superior. O primeiro tem as maiores taxas de retorno por real investido, possui uma característica social progressiva mais avançada e gera transbordamentos positivos com maior relevância. Por que, então, insistimos com essa tendência?

Ainda mantemos uma lógica elitista no ensino superior, mas essa lógica vem sendo mantida de maneira velada. Adotamos o sistema de cotas, em que 50% das vagas são preenchidas por algum modal de cotas. Mas apenas 25% das cotas são estritamente raciais, e quando trabalhamos com cotas par ao ensino público, contemplamos colégios com custo por aluno muito acima da média como os alunos dos institutos federais IFES e também dos colégios militares. Todos estes colégios não poderiam ser considerados como representativos do ensino público, visto que para que todos os alunos recebessem essa mesma qualidade, que custa 3.200 por mês, nosso investimento teria que ser da ordem de 100% do PIB. 

Quando analisamos a carreira dos professores primários no Brasil em relação ao restante do mundo, corrobora-se as minhas conclusões publicadas. Simplesmente não há carreira pública, e simplesmente não há remuneração. Somos o que pagamos pior, e somos os que não reconhecem a necessidade de premiar o mérito.

Sobre desigualdade temos os piores resultados. Nossas meninas, crianças pobres e do meio rural aprendem respectivamente, 20%, 80% e 60% do que suas contrapartidas. O que indica que em termos de mobilidade social proveniente da educação, nosso sistema público perpetua diferenças. Esses resultados corroboram o meu artigo Pareamento Racial: fazendo campeões em que apenas pela questão da cor, alunos no ensino público de cor preta aprendem cerca de 21% menos do que brancos, o que reflete uma defasagem de 6 a 9 meses de aprendizado. Ou seja, ao longo do ensino, perpetuamos também desigualdades étnicas impensáveis.

Por fim, seria impossível encerrar este tema tão complexo. Meu objetivo é apenas mostrar parte do nosso triste cenário. E as saídas não só são complexas como exigem urgência. E não será dançando na chuva ou criticando fake news que conseguiremos melhorar nossos resultados educacionais.

Comentários

  1. Venho ressaltando esta pirâmide invertida na educação brasileira já algum tempo. Belo artigo. Parabéns. Abs.

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    1. Obrigado Luciano, é preciso corrigir e ter em mente um projeto para o país. Grande abc!

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