Com o atual surto de violência, grupos reivindicam o direito legítimo da auto-defesa. Afinal de contas, ninguém deve esperar a ação do Estado para se defender quando sofre um atentado contra sua vida ou dignidade pessoal. Os indivíduos precisam ter a faculdade da auto-defesa, que é legítima e louvável moralmente.
O Estado brasileiro é negligente em relação aos seus cidadãos. Não consegue proteger minimamente aqueles os quais respeitam a constituição. Na prática, o cidadão de bem se vê refém entre uma polícia corrupta e bandidos cada vez mais cruéis e jovens, uma vez que o mundo do crime rapidamente extirpa esses indivíduos ou pela morte ou pela cadeia, sendo a primeira muito mais eficiente do que a segunda.
Além da conhecida inépcia dos atores do Estado, e os policiais ali se encontram. Profissionais que arriscam a vida para proteger a vida de desconhecidos, e fazem da sua ética a defesa da lei e da ordem. Contudo, gostaria de desconstruir essa definição. Em nenhum lugar do mundo existe um ser altruísta a este ponto, que arriscaria sua vida a qualquer momento por um desconhecido - talvez a lavagem cerebral dos membros do serviço secreto americano, do Papa, ou talvez guarda-costas de celebridades, os quais levam de fato um tiro no lugar do seu protegido.
Se esses seres não existem, como confiar em uma polícia que haje - como a grande maioria das pessoas - através de incentivos? Além do mais, se não é possível confiar na polícia para sua proteção, como então não municiar o cidadão dos meios necessários para isso?
O equilíbrio dessa situação seria, então, pessoas andando armadas na rua, ressabiadas com a onda de violência. O fato de muitos não terem treinamento e nem preparo psicológico para isso poderia ser ainda mais agravante. Contudo, argumentam alguns que, quando você retira a liberdade do indivíduo de se auto-defender você reduz seu bem estar, uma vez que o máximo livre é sempre maior ou igual ao máximo restrito - isso nem sempre é verdade, mesmo em uma ótica puramente matemática.
A última afirmação foi provada pelo recém falecido, John Nash, que provou a existência de soluções dentro de um espaço finito de estratégias, e elucidando que as soluções de interações de estratégias, não serão os máximos de cada estratégia separadamente. Ou seja, fazer o melhor para você em cada situação, não levará você a maximizar seu resultado final, caso esteja em um jogo interagindo com um conjunto de outros indivíduos.
A despeito do alto grau de hermeticidade do Teorema de Nash, sua mensagem é poderosa. Interagindo com outros indivíduos, restrições podem ser muito úteis, inclusive maximizar seu próprio resultado. E no limite, podemos argumentar sobre o paradoxo da liberdade. Pois, se a liberdade é plena, ninguém é livre, pois viveríamos presos à liberdade dos outros. Um exemplo é o semáforo. Se você quer minimizar seu tempo de deslocamento, o melhor a ser feito em um mundo sem nenhum outro carro seria abolir os semáforos. Contudo, no mundo o qual você interage com outros motoristas, sem saber que você tem a liberdade de trafegar no sinal verde, porque você restringiu a liberdade dos outros de trafegar no sinal vermelho, você provavelmente ficaria parado na porta de casa - caso não fosse o Mad Max.
Toda essa linha de argumentação leva, então, a entendermos o porquê da importância de certas proibições e restrições. E, também, a importância de fecharmos lacunas nas Leis, que em tese, reduzem as liberdades, mas pode melhorar seu bem estar, como agora a proposta para tonar crime o porte de arma branca, como facas e etc. Faz todo o sentido. Não se pode coadunar liberdade com criminalidade. Ninguém é livre para cometer crimes, e quem define o que é crime é o arcabouço jurídico. Alguns definem que só se deve utilizar de violência contra atos violentos, e o simples porte de uma arma não se traduz por violência. Mas, na minha opinião, a simples faculdade deve ser encarada como algo nocivo para a sociedade, como no caso do motorista alcoolizado. Ele não está cometendo crime algum, enquanto não atropelar ninguém, mas a probabilidade é grande, e portanto, se faz mister a criminalização desse comportamento.
Dessarte, deixo aqui a mensagem que liberdade total e plena não existe em um mundo interativo e social. E o homem enquanto ser social, necessita dessa interação com seus pares, e portanto, para ser livre se faz necessário restrições. Essa mensagem é contraditória apenas para aqueles que leem até a página 2.
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