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Um Moisés para muitos Aarões.

Calma, não quero dar nenhum ensinamento bíblico forçado ao leitor, quero apenas deixar uma reflexão sobre o papel do cientista e do comentarista de ciência. Ao que parece, no mundo de hoje, as subcelebridades científicas, ganham espaço e notoriedade, fazendo o que alguns acham erroneamente extremamente positivo. Comentar e interpretar os avanços científicos para o público em geral. E qual a parte negativa nisto? É porque muitos acabam dando uma interpretação pessoal e na maioria dos casos deturpando as conclusões científicas, que geralmente, são muito mais particulares, sui generis e dependem de hipóteses que os divulgadores acabam não revelando, não sabendo, ou sequer sabem o que significam.

Aarão foi o irmão mais velho de Moisés, e teve um papel fundamental na divulgação na doutrina da religião judaica. Moisés foi quem conversou com Deus e trouxe o conhecimento, Aarão foi quem falou a língua do povo, e soube divulgar as Leis/Mandamentos para o leigo. O cientista, atualmente, ainda tem um papel parecido ao de Moisés, conversando com o "divino" e trazendo verdades, ou leis científicas. Contudo tem em mente, ou precisa ter, que suas leis são válidas apenas enquanto ainda não foram refutadas, para ceder espaço a uma nova teoria/lei mais abrangente, mais geral, e que conserta os erros que a sua cometeu. E que, novamente, dará lugar a uma nova lei e por aí vai.

A fé na ciência garante pouco em termos de validade teórica, contudo, assim como para Aarão a fé nas palavras do seu irmão, tiveram uma validade consubstancial na hora de pregar para o povo as novas verdades e leis. O mesmo princípio vale para os comentaristas ou seguidores de teorias científicas. Acabam por sua fé cega, sendo excelentes advogados de teorias, onde tal papel jamais deveria ser exercido, por alguém que saiba minimamente qual é sua função e como a ciência evolui.

Teóricos com teorias malucas são a mola mestra do avanço científico, mas teóricos que acreditam 100% em suas teorias, acabam sendo apenas tão malucos quanto suas teorias. Há várias anedotas a esse respeito, em todas as ciências. A fé em uma teoria a torna inabalável, enquanto que o papel de uma teoria é ser testada e possivelmente refutada, dando lugar a uma nova, e mais completa teoria. O que seria da física relativista, se todos tivessem uma fé inabalável na teoria newtoniana? 

Na economia, campo este em que me incluo, tal espaço de discussão e desenvolvimento de novas teorias, deixa espaço e margem para pesquisadores atuarem mais como advogados do que pesquisadores, fazendo de suas pesquisas, fonte inesgotável de linhas e argumentos do porquê certa teoria é válida. Quanto mais estudam um assunto, mais sua paixão faz com que acreditem em sua verdade imutável. E isso meus caros, NÃO É CIÊNCIA.

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