Pular para o conteúdo principal

BNDES fonte de distorção

Distorção é definida conceitualmente como algo que modifica o estado natural de alguma coisa ou alguém. Em economia as distorções geralmente são provocadas pela atuação de forças contrárias às de mercado - livre iniciativa. A livre iniciativa baseada no sistema de trocas voluntárias, um negócio é concretizado se ambas as partes estiverem pelo menos melhor ou igual a situação anterior. Logo, cada negócio realizado é um ganho potencial para a eficiência e bem estar de todo o mercado.

As falhas de mercado, contudo, possibilitam que em interações dinâmicas, a assimetria informacional (uma das falhas de mercado mais importante) gere perdas para um(s) do(s) agente(s) que realiza um negócio. Ou seja, alguém voluntariamente promove um acordo mas que gerará uma perda futura de bem estar. Essa ação ocorre exatamente porque os mercados em muitos casos não provêm a informação completa nem a segurança nos contratos capaz de garantir o cômputo econômico de forma correta. Além disso, com o avanço teórico da teoria de contratos, cada vez mais herméticos e avançados do ponto de vista tecnológico (não confundir tecnologia com eletrônica), os agentes cuja racionalidade limitada é um fato, não conseguem antecipar todas as N (tentendo ao infinito) decorrências possíveis de se celebrar um contrato, ou realizar um negócio.

Portanto, o mercado não garante um aumento de bem estar para todos os indivíduos. Essa verdade é insofismável. Mas existe uma clara divergência sobre o que fazer na medida que conhecemos esse fato. Um exemplo do que se procurou fazer, e se procura fazer no Brasil, na medida que os mercados não são eficientes é utilizar todos os recursos públicos disponíveis para fazer políticas públicas. Porém, a despeito dos seus objetivos serem positivos, suas decorrências nem sempre o são.

Um claro exemplo de políticas públicas bem intencionadas mas que geram distorções negativas no mercado é a atuação do BNDES para o desenvolvimento econômico do país. Uma vez que, em um mercado com baixo nível de desenvolvimento, um alto risco institucional, jurídico e sistêmico, emprestar dinheiro se torna uma atividade extremamente arriscada. Levando geralmente a alocações abaixo do nível ótimo, que garantiria um nível de investimento tal que promovesse um aumento da produção no Brasil.

A atuação do BNDES tem gerado distorções sistemáticas em prol das grandes empresas, justamente aquelas que seriam bem atendidas pelo mercado. Elas buscam os recursos do BNDES não porque não tem outras fontes, mas porque o dinheiro é barato, e o financiamento via endividamento é sempre preferível em detrimento da venda de capital social, uma vez que a entrada de novos sócios reduz a liberdade da gestão da empresa, bem como reduz o valor do patrimônio dos antigos sócios.

Para se ter uma ideia do tamanho da distorção causada pelo BNDES analisemos o gráfico abaixo:


Enquanto que o Tesouro Nacional tem promovido um aumento da dívida pública a um custo altamente volátil, dependendo das condições de financiamento que envolvem crises econômicas, políticas e problemas internos do país, o BNDES tem financiado os investimentos privados (e em sua grande maioria) de grandes empresas a uma taxa média de 6% a.a. sem ou quase nenhuma volatilidade. Ou seja, em momentos de crise, o BNDES se torna um ótimo negócio para os grandes empresários, e em momentos normais também. 

O BNDES é uma fonte de um cenário ganha-ganha para as grandes empresas, pois sempre é vantajoso buscar crédito no Banco. E como sua atuação é um instrumento de política econômica, quase sempre discricionária, o grupo político que privatiza as decisões internas do Banco detém o controle de mais de 10% do PIB brasileiro, ou mais de 50% de todo crédito emprestado ao financiamento empresarial no país. 

Em síntese, o BNDES é o símbolo máximo do capitalismo de corporação, onde as grandes corporações endogeinizam as políticas públicas, comprando políticos (legal ou ilegalmente), prática esta fonte da atual crise econômica do país e quiça de todas as crises passadas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Porte de Armas: equilíbrio pareto ineficiente

A segunda emenda americana data de 1791, ou seja, final do século 18. Nessa data, as armas existentes não passavam de 1 tiro por vez. A invenção do revolver ocorreu em 1836 por Samuel Colt. Logo, a ideia do uso de armas para proteção e utilização para fins recreativos se deu em um contexto muito diferente do atual, onde armas como metralhadoras automáticas, permitem facilmente mais de 100 disparos com uma única arma sem a necessidade de recarregar. As armas são um importante instrumento de auto-defesa. Principalmente em um contexto no qual a segurança e a vida das pessoas estão à mercê de sociopatas e criminosos. Contudo, as armas que são utilizadas para a defesa à vida, podem ser utilizadas para ceifá-la. Para se ter uma ideia, olhe em baixo o perfil de armamentos que existiam na época da liberação das armas e analise e compare com os padrões de armamentos modernos. As duas imagens mostram um contexto totalmente desconexo um do outro. Enquanto que um indivíduo armado

Marcadores