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Afinal, Mises acertou em sua tese do cômputo econômico?

Segundo Ludwig Von Mises em uma economia planificada sem direitos de propriedade bem definidos e com a decisão do que, quanto, onde, quando, como e porque produzir nas mãos de um planejador central o cálculo econômico se torna impossível. Sua conclusão está baseada em sua  crítica à teoria do valor marxista que define o valor de um bem pela quantidade de trabalho empregado. Como, na teoria marxista, apenas o trabalho gera valor, um bem seria tão ou mais valioso quanto mais homem-hora forem alocados em sua produção.

Ainda com base nos cálculos de bens mais simples, Mises discute que, nunca se poderia entender o valor agregado de bem mais complexos, pois tais valores não são apenas uma soma contábil de bens simples multiplicados pela sua quantidade. Existe na economia uma forma bem mais complexa de estipular o valor de algo. E essa dinâmica se deve a interação de mercado entre agentes que buscam maximizar suas utilidades escolhendo bens que revelam suas preferências, e sendo assim, neste mercado, as trocas voluntárias entre ofertantes e demandantes a um dado preço e a uma dada quantidade é que definem o valor, e portanto, sem essa faculdade, seria impossível o cálculo acurado do quanto uma economia produziu (em termos de valor).

No entanto, mesmo com inúmeros indivíduos atuando em um mercado de forma voluntária, as falhas de mercado não permitem que se encontre um valor perfeito de um bem, mesmo entendendo que o valor monetário é apenas representativo, uma vez que a moeda representa o valor, e portanto, não possui um valor em si. Os agentes (ir)racionais não conseguem definir de forma acertada o valor, ao fazerem suas escolhas abrindo mão de todas as outras escolhas possíveis em razão de um bem. No mundo real o arrependimento e a amargura, o impulso e irracionalidade dirigem as escolhas e variáveis que são quase imperceptíveis influenciam no cômputo econômico, como por exemplo, os níveis hormonais do comprador, que é latente e de difícil mensuração.

Portanto, Mises acerta em sua afirmação, mas deixa subtendido que em uma economia de mercado tal cômputo é factível. O que de fato também não é verdade. Se quer consigo fazer um juízo se hoje, os valores dos bens são mais acertados do que deixados às mãos de um planejador central. Acredito que ambas as estimativas estarão erradas. No entanto, um planejador central dificilmente permitiria fazer uma análise criteriosa de suas escolhas, e aceitar a sua falibilidade humana. O que qualquer consumidor sempre que chega em casa e reflete sobre o seu dia e suas decisões de consumo, o faz. Sendo assim, mesmo errando potencialmente mais, uma economia de mercado no longo prazo se põe em uma trajetória mais profícua não apenas de valorar, como gerar valor para novos bens que satisfarão necessidades ou criarão novas necessidades aos consumidores, gerando um novo ciclo de criação e também de destruição de riquezas.

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