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Contextualizando Seleção Adversa e Assimetria Informacional

Os primeiros trabalhos sobre assimetrias informacionais garantiram o Nobel de 2001. Um dos mais impactantes mostrou como o mercado de carros usados reage na medida em que um parâmetro que mensura o nível de atividade econômica se altera, Akerlof (1970). A princípio, se pensa que quando a atividade econômica diminui, as pessoas precisam vender seus bens mais valiosos, e o resultado seria carros melhores nas revendas. Mas o oposto ocorre, como o prêmio médio por carro cai, os melhores carros são retirados do mercado, simplesmente porque o valor de venda está muito abaixo do verdadeiro valor. Com isso, quanto maior for a crise, menor será a qualidade dos carros, ou dos ativos negociados na presença da assimetria informacional.

Essa conclusão mostra que justamente o mais pobre, que sofre as consequencias mais perniciosas da queda da atividade econômica, quando precisa entrar em um mercado de 2a mão, como celulares, carros, roupas e etc, acaba sendo atendido por uma oferta com produtos de baixa qualidade.

Outro artigo avalia a questão da assimetria informacional no mercado de trabalho. Esse de fato possui um insight bastante atrativo, pois visa modelar a escolha do nível educacional dos agentes. Em um país com tanta desigualdade como o Brasil, a escolha do quanto estudar depende muito mais de fatores exógenos aos indivíduos, do que endógenos. A saber, a melhor forma de prever o quanto você irá estudar, é observar a escolaridade média dos seus pais. Como ninguém escolhe se irá nascer em uma família bem educada ou não, tem-se que esse fator exógeno produz viés na distribuição de renda.

Spence (1974) trabalhou exatamente esta questão, mostrando que como o nível de habilidade dos indivíduos não é observável facilmente, uma forma de um empregador inferir sobre tal nível é verificar a escolaridade do candidato. Como quem é mais habilidoso, tem um custo menor em estudar, o nível de estudo serve para sinalizar ao mercado que você é um candidato com um nível de habilidade maior. Tal fato reduz a assimetria informacional, reduz o custo de contratação e por isso, que, em qualquer lugar do mundo, quem estuda mais, tem um nível de desemprego menor, além é claro de um salário maior.


Note, então, que a conclusão é invariavelmente perversa para aqueles que possuem uma situação econômica ruim. Irão, no mundo real com a presença de assimetria informacional, adquirir produtos piores, e terão um maior nível de desemprego. Para mudar tal fato, é necessário tornar fatores determinantes para o desenvolvimento de um indivíduo que sejam de sua escolha, e não dados por uma realidade que ele não escolhe. Como isso é impossível, buscar formas de mitigar esses efeitos.

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