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Lições de Portugal e EUA

Prezados, estive recentemente nos dois países, e em 2015 nos EUA, bem como mantenho contato direto com residentes em Portugal por questões familiares. Assim sendo, consegui elaborar um abstrato mapa conceitual da recente mudança em cada um dos países e como estas mudanças podem ajudar o Brasil a solucionar seus próprios problemas internos.

No entanto, há contradições em cada modelo econômico adotado, em especial nos EUA.

Vamos aos fatos.

Na terra do Tio Sam em 2015 o retrato era desalentador. Talvez por isso a nossa imprensa não consiga entender corretamente o fenômeno Trump, principalmente por acreditar que durante o mandato de Obama a economia americana se recuperou conforme o noticiário definia. Na realidade, muitas estatísticas podem estar viesadas, e o desemprego é a principal delas.

Fui para lá no auge da demanda efetiva americana, nas férias de verão. No entanto, a explosão de consumo era refletida apenas em alguns parques temáticos famosos, muitos turistas comprando, uma receptividade incomum para o frio povo WASP, e retratos sociais bem característicos e incompreensíveis para nós.

Resultado de imagem para EUA vs PortugalEm especial no interior, o americano típico é extremamente anti-miscigenação, onde as minorias dificilmente conseguem escalar a pirâmide social - isso sim nós entendemos bem. Los Angeles, a maior cidade do maior estado americano em termos econômicos, apresentava um vazio de políticas públicas, parco policiamento, uma evidente falta de infraestrutura, uma escalada do preço da gasolina que beirava os $4 o galão e uma frota de carros envelhecida. Meu PT Cruiser brasileiro (ps. estou vendendo, entre no link!) era um dos modelos ainda mais bem conceituados por lá.

Hoje, no entanto, há uma abundância de serviços públicos, o principal deles SEGURANÇA, seja ela sustentada pelos incontáveis hotéis e resorts na sempre hoteleira Las Vegas, ou pelas patrulhas municipais, as quais incorporaram trabalhadores sem o menor perfil - ao qual estamos acostumados - de policial. Afinal, quase levei uma multa de um senhor de 55 anos, com dreadlooks na cintura, cara de quem saiu de um centro de distribuição de cannabis e com sua única arma, o seu celular. Afinal, eles lá passaram a multar apenas com aparelhos celulares, enviando para um central de ocorrência.

Além disso, o que era gratuito passou a não ser. Passou-se a cobrar uma bagatela de $10 para estacionar o carro nos principais hotéis da Strip, além disso, os preços sempre muito convidativos aos brasileiros, acostumados a sofrerem sempre quando vão às compras, hoje apenas estão residualmente mais baixos, isso para alguns bens negociáveis. O velho Big-Mac por exemplo está $9, bem acima dos nossos atuais R$24 em se pensando na cotação do dólar turismo de 4 para 1.

O segredo dessa mudança repentina se percebe na aparência e principalmente na idade de quem nos atende em qualquer serviço que seja. As atendentes do aeroporto, claramente eram senhoras acima dos 60 anos, o concierge do hotel - menino da mala- era um senhor bem simpático de 73 anos. O velho faz tudo, o qual atende o plantão da parte de engeenering do hotel, era um senhor de mais de 60, com experimentação em serviços de faz tudo, e diligentemente me ajudou a desmontar um bike, adquirida por $45 na clearance de um grande supermercado.

O trato sempre cordial fica de fora quando se trata do policiamento, seja ele efetivo seja ele paralelo, como os inúmeros jaquetas amarelas - parecidos com os franceses - cujo nível do inglês mostra claramente que são nativos, mas com parca educação e procedência pouco ilibada. Quase tive uma altercação por uma divergência sobre o sinal de PARE (o que não convém contar agora).

O segredo da popularidade do Trump está exatamente nesse boom do emprego, se pegarmos as taxas de desemprego, perceberemos a queda vertiginosa pela qual os EUA vem passando. Hoje o ultimo dado é de 3.8% o que aliada a sua política de taxa de juros de 2.5% ao ano, conjuga-se um crescimento de 3.1% ano. Esses dados nunca foram obtidos pelo menos 2 a 2 por nenhum governo brasileiro. Ou seja, nunca tivemos inflação baixa, juros baixo e crescimento moderado juntos em nenhum momento da nossa história. E isso eles apresentam hoje lá! E olha que sua economia é 3 vezes maior que a brasileira. É claro que essa política ainda parece boa de mais para ser sustentável, e só está assim graças a um programa de relaxamento tributário que vem causando déficits ainda mais acelerado do que o seu antecessor. Logo, não há algo de definitivamente bom nos EUA.

Portugal, por outro lado, sofreu enormemente com a ditadura de Salazar, cujo período foi responsável pelos inúmeros portugas que por aqui abriram suas biroscas, clubes, comércios e por aí vai. Era o país mais pobre da Europa ocidental. Porém, com a queda na década de 70 e com a sua inclusão no bloco europeu, passou a receber ajuda e hoje detém uma infraestrutura formidável. Mesmo com a grave crise fiscal sofrida em 2010, a população portuguesa ao abrir mão de pensões, direitos trabalhistas e certas gratuidades injustas como faculdades públicas gratuitas para as elites, hoje colhe frutos deste regime fiscal.

Lisboa, por exemplo, é a cidade golden standard para o turista, Porto é um paraíso em comparação com tudo o que vi no continente americano, seja no Chile, Argentina, Uruguai, EUA e por aí vai - talvez haja comparação com o sempre mais gélido Canada, em algumas de suas províncias. A infraestrutura e a qualidade de vida em termos de segurança, serviços públicos e belezas naturais deixam o brasileiro sofrido - seja de que classe for - boquiaberto. E obviamente explica a imensa quantidade de emigrantes no Brasil, com destino a nossa mãe pátria. 

Com um crescimento de 1.7% ano, desemprego de 6.7% e taxa de juros zerada, hoje Portugal tem dados mais sustentáveis que dos EUA. O déficit público parou de crescer em 2014 e apresenta trajetória de queda. E isso com um país que garante saúde, educação e segurança invejáveis aos próprios americanos, cuja saúde pública virou um monstro que se alimenta de 10% do PIB e tem jogado uma pressão enorme em cima da classe média de lá.

Como lição, Portugal demonstra que a sobriedade recompensa. A infraestrutura rodoviária, ferroviária e urbana garante a possibilidade de um crescimento sem contradições. O Brasil tem muito o que aprender com o que lá foi feito, e mantendo um olho também nas políticas insustentáveis mas eleitoreiras e bem populares do orange topetudo. Bom, fica esse meu breve relato, e compartilhem a vontade.






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