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GREVE

Eu pessoalmente vivi dois momentos de mobilização grandes nas universidades federais, um em 2012, e novamente agora, em 2015. O que mudou de lá para cá? Pouca coisa, inclusive o governo, a ideologia do movimento e os grupos de interesse continuam exatamente os mesmos. Se há algo que pode ser traduzido como mudança significativa é que, em 2012 o país atravessa um momento de euforia social, apostando todas as fichas em um modelo nacional desenvolvimentista, puxado por Estatais e grandes e eventos, descontrole fiscal, onde cada grupo queria mais um pouquinho no seu pires.

Foi feito, em 2012 a greve conseguiu que se extingui-se a antiga separação entre a carreira dos professores titulares e os demais. Essa separação, antes de status, era também remuneratória. O que foi feito foi simplesmente acabar com a carreira do professor titular, e, após isso, subir um pouquinho os salários dos professores. Contudo, como quem possui mais experiência possui mais influência política, esse grupo apoiou essa proposta, uma vez que melhoraria sua vida em termos residuais.

Mais uma vez, interesses individuais sublimaram os interesses coletivos, como sempre acontece. Logo, não se pode deflagar uma greve porque o salário é baixo. - Você é livre para procurar outro emprego, não somos mais uma ditadura. Porém, a greve é lícita para exigir condições mínimas de trabalho. Me enquadro, então, defendendo esta posição. A universidade federal foi inchada com cargos de técnicos administrativos sem qualquer fundamento. A máquina burocrática impede, até mesmo, que se faça qualquer outra coisa que não rebaixar a universidade em uma máquina de diploma, e não de ciência (haja vista nosso péssimo ranking de produção científica).

Além do mais, alunos passaram a se sentir cheios de direitos, porém, segundo a 3ª Lei de Newton, traduzida socialmente, deve haver uma contrapartida em termos de deveres. Na minha opinião, alunos compartilham apenas de um direito e um dever: - estudar! (ponto final). Fora isso, nada mais é lhe acrescido nem tolhido. Aos professores, o direito de ser professor é o dever de ensinar, pesquisar e promover a extensão universitária. Porém, com a total inversão de valores, inclusive de cunho ideológico, a pesquisa está em segundo plano e a extensão (que promoveria o apelo social e a importância da universidade para a população) natimorta. 

Chega-se a uma nova fase, atualmente, de cortes de verbas na educação, atingindo alunos, professores, terceirizados e a estrutura da própria universidade. Como combater? Greve é apenas um movimento de se posicionar contra a essa situação (e aí eu me incluo). Mas, tenho certeza, que esse governo - que foi apoiado por todos os reitores das universidades federais para ser reeleito - não fará absolutamente nada para melhorar qualquer um desses pontos. Uma coisa que sinto falta, no entanto, é a disciplina. Afinal de contas, acredito que manners maketh the man.  

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