A inflação ainda não é ponto pacífico na literatura econômica heterodoxa. Contudo, há muito já foi debatida a relação perigosa entre déficit fiscal e emissão monetária e suas implicações sobre a dinâmica inflacionária. O modelo de Cagan (1956) mostra as possíveis consequências para uma economia que visa combater o déficit fiscal através do imposto inflacionário e, principalmente, se este não é capaz de sustentar aquele o resultado é uma hiperinflação.
O Brasil, hoje, vive novamente o cenário do recrudescimento hiperinflacionário, com uma taxa anualizada passando 8%, beirando os dois dígitos anuais. Alguns ainda preconizam que o ajuste fiscal pode piorar esta questão, pois feito de qualquer modo, pode reduzir ainda mais a arrecadação do governo, que sem o devido ajuste dos gastos, promove um aumento do déficit fiscal.
A consequência deste descontrole repousa nas altas da taxa da inflação e, o caminho de transmissão da taxa de juros consegue controlar parte desse problema. Segundo o modelo de Sargent e Wallace (1981) preconiza que existem limites para esse controle, uma vez que a elevação dos juros hoje, eleva o montante da dívida amanhã. Se tal situação se tornar insustentável, aumentos na taxa de juros não irão atrair investidores para os títulos públicos, o que gera mais inflação hoje.
Logo, vivemos hoje em um momento ao que parece beirando esses dois modelos. Se expande a base monetária, com a finalidade de mitigar o déficit público, e eleva-se os juros, para controlar a inflação. Em uma dança dissonante entre política fiscal e monetária - sendo que durante o primeiro mandato do Governo Dilma o lado fiscal foi o guia dessa dança, fenômeno conhecido como dominância fiscal.
Com o recrudescimento inflacionário, então, os preços começam a subir, mas não de maneira uníssona, como prevê a teoria quantitativa da moeda e, portanto, da sua neutralidade. Ela afeta sim o nível de produção da economia, por um simples motivo. A elasticidade preço da demanda em relação aos produtos ofertados não é uniforme - tão pouco a elasticidade preço da demanda. No caso em que a demanda é menos sensível a aumento de preços do que a oferta, existe maior probabilidade que o repasse de preços seja maior para o consumidor.
Estes tipos de bens são classificados como tendo baixa elasticidade preço, e, portanto, são bens que se preconizam como bens de necessidade - ou seja, aqueles que os compradores não conseguem se abster de comprar. Notadamente essa categoria se enquadra aos bens alimentícios e remédios. Logo, esses setores passam a promover um maior crescimento econômico - basta olhar qual foi o único setor da economia brasileira que cresceu no último trimestre.
No entanto, os outros bens, cuja elasticidade preço da demanda é alta, e, portanto, são mais sensíveis a aumento de preços, não possuem essa capacidade (repasse de preços), e com isso, os custos inflacionados são internalizados pelos produtores, o que reduz seu lucro/retorno, afastando investimento nesses setores. E, como a maioria desses setores é de capital intensivo, e demandam grande quantidade de investimentos iniciais (chamados custos fixos) a maioria dos investidores e empreendedores se afasta desses tipos de produção em momentos de descontrole inflacionários.
Logo, além da inflação atacar de forma viesada os bens de necessidade básica, retirando das famílias ,que possuem maior parte da sua renda comprometida com esse tipo de bem, grande parte de seu poder de consumo, afasta os investimentos em setores de capital intensivo, Tal fato promove uma desindustrialização na economia, e perda dos postos de trabalho, justamente estes aos quais se candidatam famílias e indivíduos com renda mais baixa.
Temos, dessarte, um cenário péssimo para as famílias de baixa renda, que não só possuem baixa representatividade política, como estão desprovidos de mecanismos de mercado (alheios a decisões políticas) para se proteger da inflação. Os ganhos sociais dos últimos 16 anos estão em sérios apuros, com chances reais de serem mitigados ao final desse ciclo -se houver- de baixa econômica.
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