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A política des´comercial brasileira

É impensável em um mundo repleto por ganhos de escala indivíduos sejam mais eficientes do que uma empresa especializada. Como uma única pessoa pode viajar, procurar um produto, comprar, embalar, trazer para o país de volta e, mesmo assim, tem um preço muito menor do que as importadoras que operam no mercado brasileiro, e que só fazem isso para viver!

Na certa uma importadora teria pelo menos um desconto no atacado, poderia contratar um frete marítimo, poderia fazer em uma única viagem um estoque de 1 ano para as suas operações no Brasil. Contudo, ou esse mercado é extremamente ineficiente ou o Governo com sua política protecionista está acabando com qualquer chance desse mercado continuar a existir, ainda mais com o aumento do poder aquisitivo das famílias brasileiras.

Observa-se uma discrepância enorme entre os preços vigorados internamente no Brasil, por produtos importados, principalmente os de alta tecnologia, e diga-se de passagem, não possuem concorrentes nacionais, e os preços vigorados internacionalmente em países como Estados Unidos, Paraguai, Europa, Japão, e etc.

A lei do preço único revela que o preço dos bens, descontado a taxa de câmbio e a inflação (no caso de uma análise temporal), deve ser o mesmo entre países. Contudo, o Brasil é um ótimo contra exemplo para essa teoria. Seja os bens tradables (transacionáveis) como celulares, notebooks, vestuário e etc, como também os bens não tradables (não transacionáveis) como uma pizza ou imóveis, os preços no Brasil, mesmo descontados da taxa de câmbio, estão muito acima da média internacional.

O funcionamento lógico deste modelo é que caso uma diferença persista, um agente poderia arbitrar entre os mercado até fazer com que os preços convirjam. Contudo, parece que na lógica brasileira não há limites para essa arbitragem, ou melhor, o Governo parece querer garantir que ela continue a existir.

As políticas alfandegárias tem duas finalidades, a principal delas é de arrecadar impostos a segunda é a de proteger o mercado interno. Penso eu que como na maioria dos casos, os bens taxados não possuem concorrentes nacionais a segunda finalidade não está sendo atendida via esta política. Mas, mesmo a primeira, pode estar comprometida uma vez que cada vez mais os gastos de residentes batem recordes no exterior. O sonho da classe média brasileira de fazer compras em Miami se tornou realidade, fato este que vem comprometendo nosso saldo na balança de pagamentos desde 1994, mas depois 2006 parece ter saído do controle. 

Analisando o Gráfico acima percebemos que é nítido o comportamento explosivo dos gatos de residentes no exterior, descontados os gatos dos não residentes no Brasil. Ou seja, nossa política não está atingindo nenhum dos objetivos plausíveis de uma política alfandegária. Sendo assim, ou se muda essa configuração, ou cada vez mais brasileiros deixará seus rendimentos nas economias externas, o que logicamente está mais do que correto.

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