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Planos de Saúde, uma pirâmide perigosa

O setor de seguro saúde é vital em um país como o Brasil, com índices de saúde pública que beiram ao caos em termos de taxa de esperas para atendimento, exames, internações, cirurgias, e etc. Sem um plano de saúde, um indivíduo se vê em um mundo cuja a incerteza sobre sua própria condição de vida pode tornar suas decisões econômicas bastante complicadas.

Vejamos um exemplo: todos estamos sujeitos a contingências médicas, como quebrar uma perna, um infarto, câncer e etc. Todos deveriam, então, fazer uma provisão para despesas médicas, na medida que sua propensão a esses eventos seja maior ou menor. Contudo, você conhece alguém que junta dinheiro para o consumo futuro de saúde? Não né.

A questão é que as pessoas quando pensam no futuro, pensam sempre em consumir coisas que lhe tragam algum prazer, e gastos com saúde são apenas gastos com situações muito indesejadas. Logo, ninguém reflete sobre a real necessidade, até que ela aconteça, e lá se vai todo o patrimônio que o indivíduo juntou, pensando em outras coisas como: viagens, conforto, segurança e etc.

Sendo assim, as empresas ligadas ao setor de seguro exercem um duplo papel, além de tornarem sua vida mais segura, e retirarem uma loteria do seu bolso, loteria esta que é a sua saúde, também, devido ao seu grau de oligopsônio, conseguem barganhar preços com o setor médico de maneira mais favorável ao consumidor, justamente em um momento cuja elasticidade preço da demanda está no seu mais baixo valor - quem está morrendo não irá se importar em pagar qualquer quantia de dinheiro.

Mas, a ANS parece achar que esse setor é o culpado pela situação caótica da saúde no país. Sendo justamente o oposto. Ao fazer cada vez mais exigências na cesta de serviços médicos, o custo das seguradoras sobe muito acima da inflação e da tabela do reajuste autorizado pela ANS. E quem paga essa diferença. Quem quer adquirir um plano novo.

Essa pessoa, que ou é um jovem recém ingresso no mercado de trabalho, ou alguém com idade avançada recém aposentado ou desempregado, terá que pagar não só seu prêmio de risco por estar vendendo uma loteria para a seguradora, como terá que pagar a diferença entre os custos crescentes gerados pela massa de segurados cujos valores não podem ser cobrados de forma justa. Nesse cenário, o equilíbrio será a extinção dos planos de saúde. Pois, quando o valor de um novo plano for superior ao quanto que ele espera gastar com sua saúde, será racional viver sem plano, juntando por mês uma quantidade fixa, para fazer um seguro próprio, tornando esse mercado menos eficiente para ele, uma vez que individualmente os custos com saúde são maiores.

Uma possível solução seria tratar esse mercado de maneira mais livre, como acontece no próspero mercado de seguros de automóveis. Afinal de contas conheço várias pessoas que possuem seguro para o carro, mas não possuem seguro saúde. Será que elas valorizam mais o carro do que seu próprio bem estar, ou estão de fato descontentes com a eficiência e custos dos planos de saúde. Um seguro de carro é renovado ano a ano, e esse reajuste é feito com base no perfil e nas probabilidades e custos advindos dos dados de utilização dos clientes, o mesmo deveria ser feito nos planos de saúde, afinal ninguém quer pagar o custo de outros indivíduos.

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