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Democracia em prosa [x2]

Me vejo injustiçado, ganhei, mas não pude governar. O tempo todo fui alvo de críticas, inclusive de antigos aliados. Não me deixaram fazer o melhor. O meu povo sofre por isso, e a história ainda me dará razão. Aliados e oposição ainda hão de pagar caro por essa afronta, não a mim humilde servo da democracia e do meu país, mas uma afronta ao meu tão querido povo, que me elegeu como seu representante máximo e conhecedor de suas mazelas.

Para ganhar promovi mudanças em regimentos, alterei balancetes, antecipei recebíveis e posterguei despesas, tudo para que ninguém soubesse os sacrifícios que necessitei fazer para que meu povo - tão sofrido e amado - pudesse receber seus benefícios, arduamente conquistados. Benefícios estes, negados historicamente pelos meus oposicionistas, que, estes sim, sempre foram contrários aos anseios e desejos dessa massa adorada chamada sociedade.

Não importa se a desigualdade social começou a cair antes. E que, meu antecessor tenha feito políticas públicas aliadas ao pensamento dos meus opositores. O sucesso do meu antecessor se deve não as suas políticas - austeras e frias - mas ao seu bom coração e bom sentimento. Ele foi um pai para o povo. E toda família necessita de uma mãe. E como tal, essa sou eu, e esse país apesar de negar, me ama e me idolatra como um órfão adora sua futura e salvadora mãe.

A democracia é a salvadora de todas as injustiças. Além disso, ela é a detentora da verdade. Não existe injustiçados perante ela. Tudo vale em seu nome, e tudo será perdoado em sua razão. Sou ateia todos sabem, logo, elevei a democracia a meu novo Deus e em minha ética, o que vale é a aprovação dela. Não importam os crimes cometidos, se fui eleito, tenho razão, e quem quiser me depor, sem razão estará - é tautológico senhores!

O impeachment é golpe! Não há razão em negar. Não se pode retirar um presidente democraticamente eleito. Fui eleito por mais de 54 milhões de vozes, choros, gritos, sonhos e rezas. Esse número beatifica e limpa qualquer mácula em minhas ações e pensamentos. Não posso, então, ser julgado por ninguém. Uma vez que, a justiça só é feita quando se é julgado por um par. E como representante máximo da nação não tenho par. Sou ímpar. Sou a primeira! Presidenta eleita do Brasil. Curvem-se diante do trator democrático. Se querem golpe, terão golpe! Um no sentido conotativo, o meu será duro, firme e denotativo. Perseguiremos (eu e meu povo) todos os golpistas! Não passarão!

Muito prazer. Democracia brasileira! (Até quando pergunto eu?)

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