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O que há com o Brasil?

O Brasil possui uma peculiaridade. O Estado é amado pelo seu povo. Não sei quando começou esse processo de adoração ao Estado. Nem sei se é algo natural ao brasileiro, ou se foi importado em algum momento na história. Mas sei que tudo que é estatal é amado. Porém, pelo motivo errado. O que é estatal é amado pois, dentre outras coisas, pertence ao cidadão, e com essa noção de pertencimento, ele acredita que pode fazer o que quiser. Sendo assim, quanto mais público, mais leniente será o trato e o manuseio, e quem sabe, maior o amor.

Um grande exemplo disso era o Maracanã. Por ser um estádio público, o maior do mundo era amado por todas as torcidas do rio. Porém, todos tratavam-o como se trata a maior das vagabundas dos contos de Nelson Rodrigues, era uma Jeni de Chico Buarque, banhos de mijos, depredação, pichação, brigas, mortes, o caso emblemático de 1992, que mesmo assim, não afugentou o amor dos brasileiros pela coisa pública.

Esse amor bandido, só me faz pensar que o cidadão brasileiro é um tremendo de um canalha, ou um sociopata. Não há como amar e tratar como trata a coisa pública. São comportamentos antagônicos. Ou ainda somos e vivemos como os canalhas do início do século, que batiam nas mulheres e diziam que as amavam. Digo início do século, pois esse comportamento não era criticado como hoje o é.

A segunda peculiaridade que observo é que todos, sem exceção, odeiam os políticos. "São todos bandidos". Mas, são esses "bandidos" que fazem a gestão da coisa pública que nós amamos, e que batemos e espancamos todos os dias. Talvez nenhuma sociedade seja tão desleixada no trato do lixo, no respeito às leis, prazos, impostos e leis. Tudo porque, penso eu, como é público, é Estado, é nosso, e se é nosso, podemos moldar e tratar como queremos - e nisso eu me incluo.

Se os bandidos fazem a gestão da coisa pública, como podemos amá-la? Refutar um e aprovar o outro só nos fazem tão canalhas e ilógico quanto os próprios políticos, que aliás são eleitos por nós, e com a sabatina do voto, pensam ser intocáveis, como se o voto popular os ilibassem de qualquer mácula ou julgamento.

Observando os discursos do último domingo, observo que não existe aderência da população a nenhum discurso, fora os que abertamente abraçam uma ideologia fracassada como a socialista, e pensam que os meios justificam os fins. Portanto, ou se discute uma profunda reforma política, com um sistema de pesos e contrapesos popular, ou haverá ainda mais afastamento político do cidadão representativo. Justamente esse que ama o Estado, odeia o político, mas bate no primeiro e vota no segundo.

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