Pular para o conteúdo principal

A CEPAL e o Brasil, e seus desdobramentos na economia e no desenvolvimento

O Brasil desde a extinta CMBEU, criada em 1951, que havia proposto 41 projetos, principalmente de infraestrutura, e cujo valor chegava a cifra de 387 milhões de dólares (em valores da época), tem como principal aliado econômico no que tange ao pensamento econômico e padrão de desenvolvimento, a CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe).

A CEPAL na déc. de 50 do séc. XX, influenciou a política econômica brasileira, principalmente a política externa, ajudando o Brasil a se tornar uma das mais fechadas economias do planeta. Contraditoriamente, essa influência deve seu auge no surgimento do Plano de Metas (1956-1960), cuja racionalidade do plano estava baseada nos estudos do grupo BNDE-CEPAL, aonde o BNDE foi um dos 41 projetos da extinta CMBEU.

O fechamento econômico brasileiro se deu, no Plano de Metas, devido ao incentivo à introdução dos setores de consumo duráveis e de capital, fato que até hoje vem sendo feito, vide indústria automotiva, aonde quase todas as montadoras globais têm indústrias no Brasil.

A matriz teórica por trás desse processo de proteção ao mercado interno vêm tanto de uma matriz mercantilista, pois, nesse modelo econômico os metais preciosos indicavam o poder de uma nação, logo, o que interessava era o saldo positivo na balança comercial.

Havia uma crescente pressão para acordos comerciais, mas que não se concretizavam, pois nenhum país queria ver suas reservas de prata e ouro se esvaírem dado um acordo que não fosse vantajoso.
Após perceberem que o comércio internacional poderia trazer mais frutos do que apenas aumentarem as reservas de ouro, e que, o poder econômico de um país não estava ligado às suas reservas de ouro e prata, que, como a história mostrou, podem se esvair rapidamente, os países paulatinamente passaram a se abrir para o comércio.

Contudo, no séc. XX, para os países do terceiro mundo a palavra desenvolvimento se tornou um símbolo a ser perseguido, queriam deixar esse estigma do subdesenvolvimento para trás. Houve várias teorias para explicar o desenvolvimento e formas para atingi-lo. Uma das teorias é a de que o capital sempre tenderia a fluir para aqueles países em que obtivesse maior remuneração, isto é, países que tivessem escassez desse fator de produção; com isso, por meio da livre mobilidade de capitais, este tenderia a acumular-se uniformemente no mundo (Teoria Clássica).

Uma das críticas a esse modelo foi a chamada Teoria Cepalina de Raul Prebisch (ou estruturalista). Separando países ricos e pobres em países de centro e periferia, o autor apontava para a deterioração histórica dos termos de troca entre os dois blocos. Os países do centro (ricos) exportavam bens manufaturados e importavam bens primários para os países da periferia (pobres), mas, os preços dos bens manufaturados tenderiam a subir com o tempo, enquanto que o dos bens primários seriam constantes, por dois motivos.

Um deles é a presença de oligopólios e sindicatos fortes nos países do centro, o que possibilitariam ganhos econômicos, acima do que predica o modelo de concorrência perfeita. Além disso, a elasticidade renda da demanda por produtos exportados era heterogênea, sendo maior nos países do centro, provocando então um aumento nas exportações desses países, vis à vis aos países da periferia.

Logo, o comércio internacional livre iria fazer com que os ganhos de produtividade se dirigissem todos para os países do centro, o que não levaria ao desenvolvimento dos países e economias periféricas.
É com essa ideia que o Brasil passou a ditar seu comércio internacional, protegendo ao máximo sua indústria “nascente” e também, oferecendo vantagens para que as outras empresas internalizassem a produção no país, com o intuito de que, como o comércio internacional tende a perpetuar o subdesenvolvimento, o melhor seria produzir tudo internamente e, também, incentivar o setor exportador.

Por isso, as relações comerciais entre os países influenciados por este pensamento são tão complicadas, todos querem proteger seus mercados de forma a não terem prejuízos com o comércio. O Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, e agora a Venezuela membros do Mercosul estão em um empasse, pois, enquanto estiverem no bloco, não poderão criar acordos bilaterais que tragam instabilidade para o Bloco.

O Mercosul que está muito voltado para dentro, deixou de ser um acordo comercial e virou um acordo ideológico. O bloco do Chile vai trazer para cá comércio de outros países, com vantagens que o Brasil e o Mercosul não terão. Os EUA e União Europeia farão uma concentração muito grande de negócios e quem não fizer parte vai ficar isolado do mundo — disse José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).


A citação de José Augusto de Castro é um dos argumentos que são utilizados quando se fala em Mercosul, principalmente em um mundo hoje que vive uma ascensão dos acordos bilaterais, e, um enfraquecimento da OMC. Além disso, a aproximação ideológica entre os países Latino Americanos fazem com que ambos conheçam os objetivos do outro, e sabem que o Comércio Internacional só será aceito caso favoreça a industrialização interna, pois, é ainda um pensamento bastante forte de associar desenvolvimento à indústria.

Quando perguntados sobre que modelo de desenvolvimento o país deveria copiar, tanto os brasileiros como os demais latino-americanos mencionaram, em ordem de importância: União Européia, países nórdicos e tigres asiáticos. De forma notável, o modelo norte-americano foi pouco considerado.

Por último, quanto às relações internacionais do país os brasileiros deram ênfase a aproximar o país dos países mais desenvolvidos e exercer liderança entre os emergentes, enquanto os demais deram ênfase a aproximar o país dos países mais desenvolvidos e aproximar o país dos países mais desenvolvidos da América Latina.


Isso deu origem às primeiras considerações, em relação à liderança. Foram mencionados exemplos – como os casos do Japão e da China – que não têm liderança regional porque existe forte rejeição por parte dos demais vizinhos. No entanto, têm ambos um enfoque pragmático e indiscutível papel de destaque, uma dimensão que deveria ser considerada, por parte do Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

Como combater a inflação inercial (indexação)

O indexação é uma forma de proteger sua reserva de valor. Um jeito de poder manter constante o rendimento de uma operação. Principalmente quando esta envolve troca de valores futuros, que, por conta da inflação, correm o risco de se deteriorarem rapidamente, conforme os meses e os anos passarem. A compra de bens de consumo duráveis e imóveis envolve, entre outras coisas, acordos de antecipação de receita para o lado do comprador, e postergação para o lado do vendedor. Para se protegerem da desvalorização da moeda (inflação) os agentes do lado da venda necessitam de instrumentos que lhe permitam atualizar o valor monetário dos fluxos de caixa futuros. Com isso a indexação se faz extremamente útil, pois sem ela, ninguém iria querer vender à prestação. Porém, uma compra indexada gera, também, incertezas para o lado do comprador, uma vez que, ele não tem condições de, a priori, conhecer qual será a taxa que irá vigorar para a correção de suas prestações. Gerando com isso um desco

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Marcadores