Nas minhas turmas de cálculo percebo o despreparo, e sobretudo o descaso dos alunos do ensino público pela oportunidade que lhes é concedida pela sociedade. Não a culpa não é do ENEM e nem das Cotas. Apesar do ENEM ter reduzido consubstancialmente os conhecimentos requeridos na minha área, exatas e afins, para que alguém consiga ser aprovado com êxito em uma universidade federal.
A falta de conhecimento não é desculpa. Aliás é uma das propostas acadêmicas, uma prova que ao invés de cobrar conhecimentos prévios instiga o aluno a demonstrar sua capacidade cognitiva em aprender e desenvolver novos aprendizados. Logo, como gera distribuição, e caso essa distribuição seja correlacionada com a habilidade do aluno, o ENEM serve como seleção.
Contudo, a maioria dos alunos de fato não conseguem acompanhar o currículo normal de uma cadeira de cálculo e eu penso como será nas outras disciplinas. Observando os argumentos do colunista da Folha Helio Schwartsman, que argumenta em relação à grande apropriação privada de se ter uma graduação. Acho que a discussão deve avançar. Acho que a apropriação privada quanto maior melhor, mais incentivo terá para o esforço e conclusão do curso. Daí a grande demanda pelos cursos de Medicina e Engenharia. Contudo, erroneamente os alunos tem a impressão de que bastando ingressar, resolverão todos seus problemas.
Acredito que a sociedade deva parar de financiar 100% dos estudos dos alunos das Universidades Federais. Proponho que estas devam ser financiadas em parte por mensalidades. Caso seja inviável no curto prazo, uma medida que ajudaria um pouco o caixa das universidades e reduziria em muito a questão do descaso acadêmico, seria cobrar por cada aluno que repetisse uma disciplina a sua rematrícula na mesma cadeira. Afinal de contas, a hora aula do professor, a sala de aula, a luz, os aparatos pedagógicos não são gratuitos, não caem do céu como maná no deserto e por isso, devem ser valorizados.
O sistema de cotas provê uma modalidade para quem tem até 1,5 salário-mínimo (um salário-mínimo e meio) per capita. Como o salário mínimo hoje é de R$724, isso significa que uma família com 4 pessoas não pode ganhar acima de R$ 4.344. Não acho muito, contudo, quem ganha muito acima dessa média, com por exemplo 3 vezes mais, possui renda familiar de R$13.032. Logo, é contra qualquer justiça social pedir que uma população aonde apenas 22% das famílias ganha acima de 2 salários mínimos per capita, financie os estudos de pessoas que tenham uma renda familiar de mais de 10 salários (dados da PNAD ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais _2013/SIS_2013.pdf).
A despeito da opiniões de muitos, cobrar mensalidade não é privatizar o ensino superior federal. Mas é uma forma que permite que uma sociedade como a nossa tenha um senso maior de justiça. E não!, ensino superior gratuito não é um direito seu, é um privilégio a custa de muitos pobres que pagam seus impostos.
Comentários
Postar um comentário