Pular para o conteúdo principal

O mito da justiça da redistribuição de renda

Acumulou mais uma vez a mega sena. O próximo concurso estima para o ganhador um prêmio de 200 milhões de reais. E o que isso tem a ver com o título do artigo? Bom, imagine você que em nome da igualdade e justiça - seja lá o que isso signifique - o ganhador da mega sena fosse obrigado a dividir o prêmio com todos aqueles que perderam. Ou seja, ficando na prática, basicamente com o valor pago pelo bilhete. Ou melhor, fosse obrigado a dividir pelo menos 50% do prêmio com os perdedores. O que vocês pensam dessa situação?

A situação da mega sena é tal que todos os apostadores possuem exatamente a mesma probabilidade de receber o prêmio por 1 real investido. Logo, quem apostou sabe que, independentemente de quem ganhou, foi justa a vitória do apostador premiado. Mas porque, então, no mundo dos negócios e do livre mercado, não se enxerga o enriquecimento da mesma forma?

Por que os perdedores se sentem injustiçados no mundo real, fora dos jogos de azar? Vamos refletir sobre o caso do Neymar. Ele teve sem sombra de dúvidas uma dotação especial para poder jogar futebol no nível em que joga. Porém, arriscou e arrisca sua carreira a cada dia que entra em campo, estando sujeito sempre a uma contusão que pode encerrar sua vida de jogador profissional para sempre. Ou seja, ele exerce uma atividade extremamente arriscada. Logo, não vejo como podemos achar injusta sua remuneração.

Do outro lado, por não ter optado por uma carreira mais convencional, o mesmo Neymar, em um mundo paralelo, poderia não ter vingado como jogador de futebol, por ter se contundido aos 15 anos de idade. Por ter largado a escola cedo, teve que retomar os estudos muito atrasados, completando o segundo grau apenas aos 22 anos, e precisando trabalhar logo em seguida, no primeiro emprego que apareceu enquanto ele tinha ainda apenas 17 anos.

Por que, então, seu colega que optou por estudar ao invés de treinar futebol, e agora aos 22 é recém bacharel em direito, passou pela OAB, e que percebe um salário mensal de 5 mil reais, necessita ajudar o Neymar paralelo na sua vida?

Percebam que a noção de justiça para mim é simplesmente pessoas que optaram por pagar pelo risco que assumiram. Podendo, receber muito com baixa probabilidade e nada com alta probabilidade, ou algo moderado com probabilidade bem certa, faz parte da liberdade individual de cada um. Interferir nesse resultado pode ser tão injusto quanto forçar alguém a dividir o prêmio da mega sena.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Porte de Armas: equilíbrio pareto ineficiente

A segunda emenda americana data de 1791, ou seja, final do século 18. Nessa data, as armas existentes não passavam de 1 tiro por vez. A invenção do revolver ocorreu em 1836 por Samuel Colt. Logo, a ideia do uso de armas para proteção e utilização para fins recreativos se deu em um contexto muito diferente do atual, onde armas como metralhadoras automáticas, permitem facilmente mais de 100 disparos com uma única arma sem a necessidade de recarregar. As armas são um importante instrumento de auto-defesa. Principalmente em um contexto no qual a segurança e a vida das pessoas estão à mercê de sociopatas e criminosos. Contudo, as armas que são utilizadas para a defesa à vida, podem ser utilizadas para ceifá-la. Para se ter uma ideia, olhe em baixo o perfil de armamentos que existiam na época da liberação das armas e analise e compare com os padrões de armamentos modernos. As duas imagens mostram um contexto totalmente desconexo um do outro. Enquanto que um indivíduo armado

Marcadores