O sonho do brasileiro mediano é passar em um concurso público. O sonho das mulheres medianas é, além de passar também, casar com um concursado. Os filhos se pudessem escolher, optariam por nascerem no berço dos servidores públicos. Quem não quer algo chamado: estabilidade. Nem todos! Imagina ser estável porém com baixa remuneração? É o caso dos médicos, que podem dizer que sua remuneração é baixa, pois o mercado (que paga em média igual a produtividade marginal) paga melhor que a média dos empregos públicos para a área. Logo, os médicos não tem interesse nos concursos. O que mostra que os piores médicos é que estão indo em direção ao serviço público, e, mesmos estes, provavelmente apresentarão um baixo comprometimento com o cargo ocupado, dado o baixo custo de perder este emprego.
O concurso atual, no entanto, revela uma característica diametralmente oposta. O senado federal está abrindo vagas para técnicos administrativos, cujo requisito para investidura no cargo é possuir o segundo grau completo. A remuneração será de 15 mil reais por mês aproximadamente. E, com isso, existe uma enorme expectativa dos futuros candidatos, e também, dos cursinhos preparatórios que esperam uma enxurrada de candidatos ávidos para se prepararem para o concurso. Muitos candidatos, no entanto, possuem ensino superior, e são atraídos pelo certame, pois a remuneração inicial é muito maior do que a média de suas carreiras de ensino superior.
A partir daí, então, começa dúvidas e questionamentos sobre a gestão dos recursos públicos. Primeiro, se o público alvo é de profissionais com apenas o segundo grau completo, para executar processos de baixa/média complexidade na administração pública, por que escolher um salário que atrairá inúmeros candidatos formados. Além disso, se o país passa por uma grave crise fiscal, como justificar uma remuneração tão alta, para cargos exercidos por indivíduos cuja média salarial no mercado de trabalho, não ultrapassa 3 mil reais mês? Ou seja, uma diferença de quase 500% entre o que é praticado na economia real.
A sociedade, no entanto, não discute se a remuneração é extremamente alta para o cargo. Discute, apenas se haverá lisura no certame, onde os mais aptos e preparados irão de fato assumir o cargo. O salário alto de mais para a função é entendido como um prêmio pelo esforço do candidato. Logo, algo de muito errado existe nessa sociedade, que, tem como sonho de ascensão social não a livre iniciativa, mas um emprego remunerado pelo Estado, que por sua vez, onera toda a sociedade, para conferir uma remuneração absurdamente alta, para alguns poucos felizes, e bons fazedores de questões, que conseguiram passar e se classificar no concurso.
É preciso urgentemente qualificar as decisões dos gestores públicos e acabar com os desmandes e assaltos - legais - ao erário público. Não se pode, em período algum, e ainda mais em um período de crise, pensar em pagar 15 mil reais para um técnico administrativo, enquanto que outros profissionais recebem um salário bem abaixo do mercado, e por isso, desistem dos seus cargos públicos, cedendo lugar para outros profissionais menos gabaritados. Esse modelo de ascensão social está muito errado. Indivíduos devem perceber suas remunerações através do seu comprometimento, esforço e aptidões próprios na execução do cargo, e não na investidura do mesmo. Um empresário de sucesso não pode esperar ter altos lucros, apenas porque fez o melhor planejamento e plano de negócio, mas pecou na execução. Jogadores de futebol contratados por DVD's tem a mesma característica dos funcionários públicos. São pagos pelo seu potencial, mas não pelo que de fato entregam.
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