Pular para o conteúdo principal

Os que dividem a conta

Gostaria agora de tentar explicar o funcionamento do governo da forma mais didática e intuitiva possível, de forma a permitir sempre que possível, expressar minha posição política, e que, após a leitura do texto, todos possam entender pelo menos qual é o meu pensamento sobre as políticas públicas que são implementadas.

Uma das atividades sociais que ainda existem - e que podem acabar em breve -  no mundo real é o encontro com amigos em restaurantes e barzinhos. Quando saímos com amigos, a conversa e o contato pessoal geralmente são a motivação principal para estarmos lá, porém, uma boa comida e bebida como planos de fundo, geralmente tornam a experiência ainda mais prazerosa.

Contudo, conforme a qualidade desse plano de fundo aumenta (comida e bebida) eleva-se junto o valor final da empreitada social, que ao final de tudo, deverá ser dividida entre os amigos. Obviamente há aqueles que saem antes de todos irem embora, e geralmente deixam valores correspondentes (depende de quem é seu amigo) do seu consumo. E para aqueles que ficam até o final (geralmente os melhores amigos) fica a não tão prazerosa tarefa de lidar com a conta final.

Confesso que a partir daí surgem algumas divergências sobre a etiqueta. Como lidar com essa situação. A forma mais simples é dividir a conta pelo número de pessoas e pronto. Ou seja, cada um paga de forma igual. Nada mais justo?! Não penso assim. Primeiro, só seria justo se todos consumissem de forma igual. O que raramente acontece. Portanto, se dividirmos a conta igualmente por todos, aqueles que consomem pouco, pagaram pelos que consomem muito.

Logo, essa assimetria no consumo não se coaduna com a simetria do pagamento. Se você sai sempre com o mesmo grupo de amigos, logo logo, começa a reclamar daquele amigo comilão, e que quer sempre dividir a conta igualmente. Porém, raramente você se senta à mesa sempre com os mesmos amigos. E reivindicar alguma maneira mais equânime do que a já acolhida estratégia de dividir igualmente a conta, geralmente pode lhe fazer parecer avarento, e lhe fazer perder alguns futuros convites a novas resenhas.

Com isso em mente, e sabendo que a divisão da conta igualmente é algo de praxe, alguém racional, poderia colocar em prática o seu lado mais glutão. Como ele sabe que quanto mais pessoas sentadas na mesa, menor a parcela do seu próprio consumo que ele terá que arcar. Por exemplo, para cada real gasto, ele terá que arcar com 1/N na hora da conta, uma vez que seu consumo será dividido pelos demais N-1 amigos/colegas.

Como todos pensam assim, geralmente o consumo se torna cada vez mais liberal conforme mais pessoas estão na mesa. Principalmente se você não conhece muito bem todos na mesa, e também, se não se reúne de forma constante com esse grupo de amigos. E a partir daí começa não só o custo da empreitada social aumentar, como o retorno diminuir - retorno entendido como o entretenimento obtido pelo encontro.

Agora pense que essa mesa de encontro pode ser aberta há mais algumas pessoas que você não conheça. Quanto menos pessoas desconhecidas, menor a vontade de participar do encontro, principalmente pelo fato de ficarmos com medo de no final da noite, a conta ser bem maior do que o retorno. Ficaríamos com receio de termos uma experiência ruim, pois além de conhecermos pouco as pessoas ao redor, teríamos que repartir igualmente com indivíduos que sequer simpatizamos. Pagaremos seu excesso de consumo com um pouco de dó do nosso próprio dinheiro. Pensando que deveríamos ter consumido mais, para empurrar a conta mais alta nessa turma que não conhecemos - e não simpatizamos muito... .

Ao lado da mesa, também ficam alguns grupos periféricos. E sabendo da política de divisão igualitária, os componentes da sua mesa, podem querer fazer alguma benesse à custa de todos. Como por exemplo enviar um vinho para uma mesa de meninas solteiras, e etc.

Assim funciona o estado. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

Como combater a inflação inercial (indexação)

O indexação é uma forma de proteger sua reserva de valor. Um jeito de poder manter constante o rendimento de uma operação. Principalmente quando esta envolve troca de valores futuros, que, por conta da inflação, correm o risco de se deteriorarem rapidamente, conforme os meses e os anos passarem. A compra de bens de consumo duráveis e imóveis envolve, entre outras coisas, acordos de antecipação de receita para o lado do comprador, e postergação para o lado do vendedor. Para se protegerem da desvalorização da moeda (inflação) os agentes do lado da venda necessitam de instrumentos que lhe permitam atualizar o valor monetário dos fluxos de caixa futuros. Com isso a indexação se faz extremamente útil, pois sem ela, ninguém iria querer vender à prestação. Porém, uma compra indexada gera, também, incertezas para o lado do comprador, uma vez que, ele não tem condições de, a priori, conhecer qual será a taxa que irá vigorar para a correção de suas prestações. Gerando com isso um desco

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Marcadores