Pular para o conteúdo principal

Estado empreendedor

Nada mais "negribranco" do que a ideia de um Estado empreendedor, ou seja, imbuindo da responsabilidade de desenvolver novos negócios, tecnologia, desenvolvimento e crescimento econômico. O Estado enquanto empreendedor é uma metáfora sem graça, mais parecida do que uma piada requentada de um comediante inglês.

A principal razão do Estado não poder empreender, é simples. O empreendedor assume, por definição, risco. O risco que este assume, não é uma situação de vida ou de morte. Mas sim, o risco associado ao sucesso ou fracasso do negócio. Além disso, mesmo que advoquemos, assim como Schumpeter, que o empreendedor não utiliza seus recursos, e sim, dos poupadores, para promover suas idéias, o risco de falir seu empreendimento, e, portanto, ter seu nome associado ao fracasso, significa a morte da sua carreira, e logo, da sua vida profissional enquanto homem de negócios.

Os gestores públicos, em outra mão, não assumem risco algum. Quando querem desenvolver um novo negócio, ou empreendimento, utilizam os recursos da sociedade para tal, e caso o empreendimento seja um sucesso, não poderão (legalmente falando) auferir nenhum lucro com isso. O mesmo raciocínio vale em caso de fracasso, seu patrimônio não estará comprometido caso o empreendimento estatal vá a falência (no longo prazo, em 100% dos casos).

Além disso, para empreender é preciso investir, para investir é preciso recursos, para ter recursos é preciso ter poupança. E quem é que poupa para o Estado? Sim, a sociedade privada. Logo, os recursos que o Estado utiliza para depreender seus empreendimentos são, invariavelmente, fruto do excedente gerado pelos negócios privados. Sendo assim, fica difícil advocar à favor de mais empreendimentos públicos, se isso significa menos recursos privados que gerariam novos empreendimentos privados, estes, únicos geradores de excedente para a sociedade.

Pense nisso antes de sair na rua essa semana defendendo, por exemplo, a não privatização da CEDAE. Defenda um sistema de privatização "limpo", pois se tem algo que é tão pior que uma economia onde o Estado é o empreendedor, é uma economia que dependa das estreitas relações entre os empresários e funcionários do governo, chamado capitalismo de compadrio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

Como combater a inflação inercial (indexação)

O indexação é uma forma de proteger sua reserva de valor. Um jeito de poder manter constante o rendimento de uma operação. Principalmente quando esta envolve troca de valores futuros, que, por conta da inflação, correm o risco de se deteriorarem rapidamente, conforme os meses e os anos passarem. A compra de bens de consumo duráveis e imóveis envolve, entre outras coisas, acordos de antecipação de receita para o lado do comprador, e postergação para o lado do vendedor. Para se protegerem da desvalorização da moeda (inflação) os agentes do lado da venda necessitam de instrumentos que lhe permitam atualizar o valor monetário dos fluxos de caixa futuros. Com isso a indexação se faz extremamente útil, pois sem ela, ninguém iria querer vender à prestação. Porém, uma compra indexada gera, também, incertezas para o lado do comprador, uma vez que, ele não tem condições de, a priori, conhecer qual será a taxa que irá vigorar para a correção de suas prestações. Gerando com isso um desco

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Marcadores