Ao chegar no aeroporto de Havana, a primeira sensação é que se está em uma repartição pública da década de 70. Funcionários militares conferem com esmero a documentação, dando uma impressão clara de que há uma grande tensão no ar. Aquele parece ser um território em que as tensões de um regime ditatorial encontra uma certa limitação, dado o grande afluxo de turistas e cubanos que entram e saem constantemente, os primeiros livres e incentivados, e os segundos com forte restrição e vigiados.
A fotografia registrada acima pode ser aferida pelo simples clima dos turistas acostumados a tirarem selfies a todo momento, e que, dentro do aeroporto, cercado de militares, e sem aquelas lojas que forçam os visitantes a gastarem alguns momentos em lojas com produtos locais, o choque cultural é grande. Afinal, quase todos os aeroportos hoje em dia, seja aonde for, são grande shoppings, onde eventualmente não iremos regressar para casa depois das compras, com produtos que não iremos usar tão cedo. O próprio peso da mala, nos lembra que as comprar precisam seguir alguma racionalidade. Em Cuba tal preocupação não existe.
O caminho do aeroporto até a cidade de Havana é cercado por uma penumbra de muros altos, ruas sem nenhum tráfego, nenhum prédio acima de 3 andares e asfalto bem conservado. A cidade de Havana a noite nos leva a uma vontade grande de querer regressar ao aeroporto. Um silêncio ensurdecedor, pouca iluminação, ruas inundadas de uma chuva da semana passada, e nenhuma vida noturna aparente. O pensamento é, o que viemos fazer aqui.
Esse pensamento não se dissipa com a manhã que chega. Nossa vontade de pegar o celular, avisar a todos que chegamos e tirar algumas fotos, logo esbarra na falta do wifi liberado, tão necessário quanto a água que nos tira a sede nos dias atuais. Portanto, ficar no quarto não é uma opção para nenhum turista em Cuba, mesmo para os mais preguiçosos. E a rua rapidamente mostra que Cuba é diferente de tudo o que conhecemos.
Digo isso porque pobreza em nossos dicionários está correlacionado com violência, perigo, burrice, e tudo que é desagradável a todos. A pobreza nossa é quase um subproduto do que é ruim e deve ser evitado. Em Cuba, pobreza é apenas a baixa capacidade de consumo. A violência, íntima amiga dos brasileiros, e mais íntima ainda dos cariocas, lá é inimiga pública. Inexiste violência e crime, seja no local mais pobre ao mais rico de Havana. E cuidado, essa distância lá é curta. Aqui também é em termos geográficos. Mas lá é curta em termos sociais, e menos ainda em termos culturais.
E assim se caminha pelas ruas com uma liberdade que desconhecemos, pois temos contato com a realidade, que é assustadora, de uma sociedade que não está baseada no consumo, que preserva com maestria os poucos recursos que dispõe, onde um silêncio político é imposto, mas isso não promove nem violência tão pouco sensação de aspereza. O povo cubano, ao que parece, resolveu essa equação com um excesso de simpatia (sem ser forçada) e uma cultura que extrai uma admiração a cada palavra trocada.
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