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Problemas do cotidiano:universidades públicas

A despeito do fato de que os estudantes das instituições públicas recebem, talvez, o único retorno realmente tangível dos impostos, sua mentalidade ainda é pouco avançada no sentido de realmente quantificar e valorizar o retorno dos impostos pagos, na sua trajetória de vida.

A universidade pública há bem pouco tempo era reduto de uma minoria abastada que, através dos recursos extraídos de um sistema tributário regressivo e ineficiente, conseguia fornecer uma educação de excelência, porém para poucos.

Atualmente, tal sistema mudou. A universidade pública democratizou, através das novas políticas de seleção, seu acesso. O que permitiu que parcelas da população com baixo nível socioeconômico, adentrassem ao ensino. Contudo, adentrar é um passo, permanecer e concluir os estudos é outro passo totalmente diferente, mas uma decorrência do primeiro.

Conforme o número de alunos matriculados foi aumentando, percebeu-se que o custo por aluno matriculado, ao invés de diminuir, foi aumentando. Logo, a universidade já operava em um processo de deseconomias de escala. Além disso, esse custo aumentou, não apenas pelas exigências de novas instalações físicas, mas também pela qualidade socioeconômica do aluno, que exigia novas formas de fazer com que esse aluno permanecesse na universidade, seja através de auxílio moradia e alimentação, bem como, na média a qualidade da escolarização dos mesmos diminuiu. E, portanto, é mais custoso aos professores hoje, fornecer, a mesma qualidade de aprendizado que fornecia há 10, 20 anos atrás.

Soma-se esse aumento de custos, a uma perda na noção dos direitos e deveres dos alunos. Onde, situações que antes eram de exceção, como a necessidade de fornecer auxílio moradia e alimentação, bem como uma complementação na renda, para que esse aluno não precise trabalhar, e abandone a faculdade. Passaram a ser a regra. Todos exigem isso. Alunos onde muitos moram nas próprias cidades dos campis universitários, chegam a todo momento para os professores, e pedem assinaturas para o auxílio moradia, entre outros auxílios. Não que alguns não mereçam. Mas, a maioria não.

Além disso, a justificativa de, em um país onde muitos passam fome, jovens universitários receberem auxílio moradia, transporte e alimentação é: pelo simples fato de que como o investimento inicial de fornecer matrícula e direito a assistir às aulas é elevado, perder esse investimento porque o aluno não tem condições econômicas de continuar na universidade, faz com que, em uma análise de custo vs. benefício, seja ótimo fornecer esses recursos.

Porém, essa análise de custo benefício foi feita, ao meu ver, em um cenário de ceteris paribus, pois, muitos daqueles que não teriam necessidade desses recursos, abaram se utilizando dos mesmos. Mais uma vez o pensamento de que o dinheiro do estado é infinito, ou se cria do nada, permeia a mente de muitos jovens que estão hoje na universidade.

Para dar um exemplo: outro dia durante a aula percebi que um dos quadros estava realmente muito ruim. E o custo de um quadro branco é ínfimo, frente ao benefício que ele gera nas mãos de um professor, ou um conjunto de professores, que possuem no mínimo mestre/doutorado. Pensando nisso, sugeri que os próprios alunos fizessem uma vaquinha para trocar o quadro. Foi o início de uma discussão, porque, na cabeça deles, é dever do Estado trocar esse quadro, sempre que necessário. Estão certos. Porém, em um mundo real, aonde o Estado é omisso em tantas coisas que são muito mais necessárias, como saúde básica e educação primária, como justificar a troca de um quadro branco, que gera benefícios quase que privados, em termos de prioridade em um cenário de grave crise fiscal. Conclusão: os alunos continuam a terem aulas em quadros ruins, o que prejudica exclusivamente a eles, mas achando que estão mais do que certos.

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