Pular para o conteúdo principal

Incesto: Aumento de Preços e Aumento Salarial

Li um artigo que remete a perigosa relação entre aumento salarial e recrudescimento inflacionário. Como se uma coisa necessariamente implicasse na outra. A ideia apesar de conter lógica casualista, de fato não necessariamente precisa acontecer.

A inflação nada tem a ver com aumento de preços. Os preços sobem por causa dela. O mesmo acontecem com os salários, que sobem por causa da inflação. Mesmo a regra do ajuste salarial, que reajusta o salário mínimo segundo uma média do crescimento dos últimos dois anos mais inflação, onera um país que cresce pouco, exatamente porque sua inflação é elevada. 

Os salários sem regulamentação crescem na mesma proporção do aumento da produtividade. Logo, políticas que visem aumento ou ganho salarial necessitam debruçar em como aumentar a produtividade dos trabalhadores. Não se pode esperar que alguém aumente sua produtividade dando-lhe aumento salarial. Uma vez que trabalho pode se tornar um bem inferior, um aumento de salário pode vir até reduzir sua produtividade ou suas horas de trabalho ofertadas.

Culpar o aumento do salário mínimo pelo recrudescimento inflacionário é algo irreal e ao mesmo tempo perigoso, uma vez que causa um perigoso sentimento de que a inflação é algo necessário. O que é uma grande mentira. Só existe um lugar aonde se cria inflação, no mesmo lugar que se cria dinheiro. A inflação é simplesmente o resultado do aumento da oferta de moeda. E a pressão para esse aumento se deve, de forma preponderante, por uma política fiscal descontrolada.

Por fim, tanto aumento salarial quanto aumento de preços são filhos da inflação. E, esses aumentos, apenas servem para corrigir as perdas promovidas por essa mãe, que além de gerar instabilidade nos preços, promove uma distorção na distribuição de renda, piorando a vida daqueles que não possuem mecanismos de se proteger dela. Os mais pobres.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

Como combater a inflação inercial (indexação)

O indexação é uma forma de proteger sua reserva de valor. Um jeito de poder manter constante o rendimento de uma operação. Principalmente quando esta envolve troca de valores futuros, que, por conta da inflação, correm o risco de se deteriorarem rapidamente, conforme os meses e os anos passarem. A compra de bens de consumo duráveis e imóveis envolve, entre outras coisas, acordos de antecipação de receita para o lado do comprador, e postergação para o lado do vendedor. Para se protegerem da desvalorização da moeda (inflação) os agentes do lado da venda necessitam de instrumentos que lhe permitam atualizar o valor monetário dos fluxos de caixa futuros. Com isso a indexação se faz extremamente útil, pois sem ela, ninguém iria querer vender à prestação. Porém, uma compra indexada gera, também, incertezas para o lado do comprador, uma vez que, ele não tem condições de, a priori, conhecer qual será a taxa que irá vigorar para a correção de suas prestações. Gerando com isso um desco

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Marcadores