A inflação e o desemprego são os piores fenômenos econômicos. Estão atrelados e assolam principalmente os mais pobres, que por decorrência possuem as piores condições socioeconômicas e menor capacidade de gerar poupança e ficam, então, sempre no limiar entre a subsistência e a fome.
O desemprego claramente acomete de forma mais viesada os mais pobres. Porém a inflação, que também o faz, não necessariamente é combatida como uma política que ajuda os mais pobres. Por exemplo, ao se subir os juros para arrefecer à inflação, geralmente a esquerda se levanta em coro para dizer que estão favorecendo os banqueiros e os rentistas, mas em nenhum momento refletem que a inflação é um fenômeno tão ou mais pernicioso que o desemprego.
O primeiro ponto de ruptura com o pensamento da neutralidade da inflação na distribuição de renda é o formato no ajuste dos preços, que não é linear. A capacidade de repassar aumento de custos não se dá de forma unívoca da oferta para a demanda. Se dá de forma interativa. E quem possui a maior capacidade de repasse nos preços é que possui a maior elasticidade. Ou seja, que é mais sensível à aumento de preços. Logo, como os itens de necessidade básica como comida, água, vestuário e etc, são consumidos em maior proporção da renda por pobres, e como esses itens possuem uma demanda menos elástica do que a oferta, geralmente o aumento de preços, por aumento de custos - gerados pela inflação - é repassado quase integralmente aos consumidores.
Além do repasse nos preços dos produtos mais consumidos em proporção da renda, os pobres tem que lidar com outra questão. Mesmo aqueles que estão empregados, e que recebem um salário mínimo estão, no meu pensamento, mais fragilizados com relação à inflação que os mais ricos - e também os assalariados. E isso mesmo com os recentes aumentos do salário mínimo que foi 0,1 p.p. acima da inflação - o que indica que foi reposto apenas as perdas inflacionárias.
Acontece que as perdas inflacionárias são corrigidas através de aumentos percentuais. Ou seja, se multiplica o salário por X = (1 + inflação passada). Isso significa que a distribuição de salários terá uma média que terá, em tese, o mesmo poder de compra do ano passado. Porém, como Var(aX)=a^2Var(x), tem-se que a distribuição de salários fica cada vez mais dispersa em relação à média com as correções salariais da inflação. Ou seja, acaba havendo um aumento da desigualdade ao se corrigir as perdas inflacionárias através da multiplicação dos salários por uma alíquota que corrija as perdas.
Um exemplo simples é que quem recebe 1.000 reais, e recebeu 10% de correção inflacionária, irá receber um aumento de 100 reais. Contudo, quem recebe 20.000 reais, irá perceber um aumento de 2.000 reais, ou seja, um aumento 20 vezes maior que a sua contrapartida mais pobre. Logo, não adianta defender um governo que corrija perdas inflacionárias no salário mínimo, uma vez que a correção da inflação será passada para quase todos os setores, inclusive os Juízes, Senadores e o próprio Presidente!
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