Nenhum indivíduo age de forma espontânea contrário aos seus próprios interesses. Todos somos escravos de nossa vontade humana ilimitada. Confiar sua velhice nas mãos de alguém que não tem nenhum interesse particular nisso é algo pouco inteligente de se fazer. Obviamente, existem pessoas que ficaram ricas administrando o patrimônio de terceiros. Mas ganham incentivos para isso. Jamais seriam remuneradas casos suas ações exibissem prejuízos aos terceiros que confiaram em sua gestão.
A difícil arte de gerir ativos de terceiros, pressupõe que o gestor tenha mais conhecimento financeiro do que o próprio. Além disso, pressupõe também que este terceiro está poupando (gastando menos do que arrecada) de forma a garantir que essa poupança, feita de forma contínua, e por um longo período, lhe garanta uma velhice tranquila. Obviamente, quando me refiro a velhice, digo um período em que nada tem a ver com a idade. Mas sim com um momento na vida do indivíduo em que ele perde sua capacidade de "fazer dinheiro". E, portanto, necessita viver com o que poupou durante seus anos de atividade.
Obviamente, as decisões individuais de poupança para a velhice estarão sujeitas a riscos maiores. Dado que a Lei dos Grandes Números, um teorema complicado de estatística e probabilidade, garante que quando o número de observações aumenta, a média amostral converge para o valor esperado. Isso quer dizer o seguinte. Se você poupa sozinho, e a população tem uma expectativa de vida de 80 anos, e você se programa para trabalhar até os 60, para poder viver os outros 20 anos que lhe faltam, existe um risco bem grande de você individualmente viver mais do que 80 ou menos também, inclusive não conseguir trabalhar até os 60. Mas, se estamos trabalhando com uma amostra significativamente grande, e é isso o que representa o total de trabalhadores ativos no Brasil, os valores dessa média, irão convergir para os valores esperados.
Portanto, faz sentido sim se proteger em grupos dos azares individuais aos quais todos estamos sujeitos. Contudo, nossa previdência hoje gera privilegiados nesse jogo. Os funcionários públicos, militares, membros do legislativo, executivo e judiciário estão sugando boa parte da "sorte" do restante da sociedade. A tal ponto que, seria (e hoje o é) preferível se arriscar sozinho em um sistema previdenciário do que contribuir para o atual. O valor presente líquido dos investimentos na previdência pública é negativo, haja vista que hoje ela já não se paga. No futuro, menos ainda. Como reverter esse quadro?
É mister que a previdência sirva para garantir um mínimo de dignidade a todos que a compõe de maneira equânime. Tratando a todos de maneira igual e linear. Isso é uma condição necessária. Mas a condição suficiente é que esteja por trás dos investimentos necessários para que a previdência gere recursos suficientes para garantir uma boa aposentadoria a todos, indivíduos altamente capacitados, e graças aos recursos tecnológicos, não precisam ser muitos, pois grande parte do trabalho financeiro hoje é realizado por computadores. Resta aos financistas pensarem, e isso os computadores ainda não aprenderam, em como garantir investimentos rentáveis no futuro.
Se montarmos uma previdência cujo único intuito - que é o caso da atual - seja quem está na ativa pagar pra quem se aposentou, esse jogo se chama pirâmide, e a história prova que uma hora ela desmorona. Desarmar essa bomba social é matéria importante, e a atual reforma não garante isso.
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