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UNIVERSIDADES PÚBLICAS, o que acontece?

Não há nada mais prazeroso, ao que parece, do que investir dinheiro público no Brasil. Como um passe de mágica, empreendimentos que nunca foram cogitados saem da cartola dos policy makers de maneira rápida e intempestiva. Quando se trata de algo que é logicamente aceito como investimento público, então, rapidamente esse investimento ocorre. Contudo, os erros cometidos são imperdoáveis. Uma vez que, de um modelo exitoso de desenvolvimento acadêmico, apesar de extremamente elitista, a realidade acadêmica hoje é pobre em comparação com o cenário internacional.


Segue abaixo o ranking dos países por artigos publicados, citados, e seu impacto, avaliado pela Times Higher Education.



A razão da pouca efetividade dos resultados acadêmicos no Brasil não são de fácil esclarecimento. Contudo, uma parcela significativa dela emerge do modelo educacional e científico aqui perpetuado pelas Universidades Públicas. Tais instituições detém praticamente o monopólio da pesquisa científica em muitas áreas. Contudo, nas áreas em que existe um paralelo com as instituições privadas, ou mesmo, outras instituições públicas que não trabalham como educação como sua atividade fim, as Universidades Públicas no Brasil deixam muito a desejar. Um exemplo é comparar o que é produzido pela Fiocruz na área da saúde, com o que é produzido por todos os outros cursos da área da saúde somados no estado do Rio de Janeiro, como UERJ, UFRJ, UENF, UFF, UNIRIO e UFRRJ. Comparemos, também, o que é produzido no IMPA, com os mesmos cursos de exatas nas outras instituições do estado. Os exemplos são incontáveis.


As universidades públicas no Brasil tem se deixado atrair por uma agenda muito mais política do que acadêmica. Discussões de ordem ideológica sobrepõe a ciência e a pesquisa. Logo, decisões que deveriam ser tomadas na direção do avanço científico, muitas das vezes, são deturpadas, e trazem consigo mais malefícios do que benefícios para a sociedade em geral. Este, fim último do desenvolvimento científico, que é servir a sociedade. Um dos exemplos mais gritantes é o investimento nos prédios novos dos pólos das Universidades, os quais, em muitos casos, geraram atrasos ou paralisação das obras por falta de competência técnica de gestão. Pois, em muitos casos, como não havia corpo técnico nas universidades para acompanhar o andamento dos projetos, muitos por falhas no projeto básico, como relata a reportagem da Veja.

Soma-se a esse quadro de atrasos de projetos, o velho e conhecido jeitinho brasileiro, onde para que a Universidade se torne uma fábrica de diplomados - muitos acéfalos acadêmicos - obriga as aulas acontecerem em contêineres alugados, refletindo per se, a política do curto prazo, ou do cobertor curto, muito comum na administração pública, que pensa sempre até a próxima eleição, preterindo uma política de estado a uma política de governo. Com isso, falta espaço hábil para professores efetuarem suas pesquisas, projetos de extensão e ensino, tolhendo da universidade seu papel de transformador de realidades, e fazendo com que o diploma perca valor intrínseco. E isso ocorre em um momento o qual nunca se gastou tanto com educação. Dados do MEC mostram que, mesmo atualizados para valores de 2013, o país gastou em 2013 mais do que em 2000, e que cada estudante para receber o diploma superior, custou em média R$ 85.531,00 para o Estado. 


A pergunta então é: cadê os princípios da eficiência, eficácia, economicidade e efetividade que deveriam nortear esses investimentos? Enquanto eu, e vocês procuram encontrar as respostas, vamos ler o que o site da UFF tem a dizer sobre o prédio novo a ser entregue pelo Pólo de Campos dos Goytacazes, mais uma obra pública, que não será entregue no prazo, quiça nem concluído. 


A previsão de entrega do novo polo é para meados de 2014. De acordo com o reitor Roberto Salles, o objetivo da visita é justamente cobrar que este prazo seja cumprido e que não haja atrasos na construção.
— Tivemos alguns atrasos no início das obras como, por exemplo, com licença ambiental e etc, mas não há mais desculpa. A obra agora terá que andar em ritmo acelerado. A unidade da UFF que temos em Campos está comprimida. Estamos crescendo e precisamos de mais espaço, por isso a conclusão desta obra é de suma importância — disse o reitor.
Em coro com Roberto Salles, o vice-reitor Sidney Mello afirmou que não há mais tempo a perder. “Estamos aqui para acompanhar as obras porque queremos que ela fique pronta rapidamente”, concluiu.

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