Na literatura econômica, tragédias dos comuns se refere a ineficiência alocativa de um bem público, que passa a ser utilizado por todos e exaurido, dado que o custo é comum mas o benefício é privado. No que se refere à política, o inverso ocorre, e a decorrência é a mesma. Pois, o benefício é de todos mas o custo é privado. Logo, ao invés de exaurir o bem comum, no caso da política há o seu esvaziamento.
As manifestações que ocorreram em 2013, a despeito da sua enorme adesão por parte de grupos jovens e ligados a movimentos de extrema esquerda e, também, estudantes, tiveram uma motivação de puro descontentamento com a situação atual, porém sem um alvo específico. Havia na época, então, um vácuo ideológico, rapidamente ocupado por uma esquerda descontente, mas que ainda estava ludibriada com as promessas do Governo do PT, as quais só não eram cumpridas, por conta de uma aproximação do atual Governo com o Capital.
Logo vieram as eleições, e muitos acreditaram nas promessas e na propaganda que violentou as esperanças de muitos brasileiros, ainda crédulos de algum resquício de boa fé, e boa intenção por parte dos integrantes do Governo. Pensaram a maioria dos brasileiros, pelo menos 50% mais 1, que tudo era obra de má interpretação por parte da imprensa, e movimentação de bastidores para abalar as estruturas de uma máquina política pronta para ajudar o pobre a qualquer custo.
Contudo, na medida que a eleição passou, o véu caiu. Foi algo surreal observar a mudança no discurso dos então membros eleitos do Governo, que de bonança, fartura, e de boa gestão, traduzidos em inflação sob controle, desemprego baixo, crescimento sustentável e situação fiscal controlada, se tornou uma situação difícil e que é devida à então "marolinha" da crise econômica internacional de 2008.
Essa cara de pau, lembra em muito uma passagem do livro 1984, onde Orwell narra um personagem que discursa sobre a guerra da Oceania com a Eurásia, e que no mesmo discurso muda o alvo da guerra para a Lestásia, e mesmo assim, consegue transmitir a mesma credulidade e incutir o mesmo ódio e repulsa aos seus interlocutores, fazendo com que eles acreditassem o tempo todo que de fato a guerra sempre foi com a Lestásia. Uma amostra do chamado "negribranco", que era a capacidade de acreditar que o negro é branco, caso seja a favor do Partido, e mais, de negar que nunca foi branco e, mais profundamente, de esquecer que um dia o branco foi branco.
O esvaziamento político por parte da população, então, não é algo sem explicação. Parte sobre tudo da ineficácia das ações que são descoordenadas com os interesses dos partidos. Sendo assim, pouco foi mudado no pensamento político e no seu modos operandis, mesmo com as violentas manifestações de 2013. Afinal de contas, o número de políticos reeleitos em todas as instâncias foi relativamente alto.
A situação é simples, votar direito dá trabalho, logo gera custo. Um eleitor consciente de seu papel e da sua importância, que pesquisa, e consegue ir além da propaganda política (que na minha opinião deveria acabar) pode ser obliterado por uma legião de eleitores que votam de acordo com o ruído gerado pelas propagandas violentas dos candidatos de situação. Uma vez que estes dominam a máquina pública, e fazem com que o erário público seja destinado para a manutenção dos seus grupos de interesse e suporte político. Portanto, como o custo de um voto consciente é individual, mas o benefício é coletivo, o esforço se torna inócuo, o que ajuda os maus políticos a se perpetuarem no poder.
Além disso, provoca um esvaziamento político desembocando em uma situação de extremo descontentamento e sensação de impotência. O que pode se tornar perigoso para o país e para a democracia. Pois, nesse vácuo de representação, as figuras dos salvadores da pátria surgem, e passam a se tornar importantes articuladores políticos. Alguém que consiga manipular essa massa descontente, pode curvar a democracia para seus interesses, abrindo ainda mais as portas do país para um governo ditatorial e tirano.
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