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Brasil: Um paradigma antigo da administração pública

Fechem os olhos. Imaginem uma empresa que vale meio trilhão de dólares. Imagine que não seja uma empresa, mas sim uma holding, que lida com tudo, desde serviços de água e limpeza urbanos até promoção de energia via matriz nuclear. Pense em como deve ser difícil coadunar tantas áreas em uma só. Mas calma, essa grande holding possui CEO´s para cada umas dessas áreas. Pois é, descentralização da administração, um paradigma importante da Administração Neoclássica.

Além disso, essa descentralização permite que decisões antagônicas sejam tomadas. Como por exemplo, suas grandes empresas do setor financeiro costumeiramente atuam de forma divergente. Quem controla o acesso ao crédito, tenta restringi-lo, contudo, quem fornece o crédito, tem costumeiramente aumentado sua oferta de crédito.

Ora, nada mais democrático do que deixar decisões antagônicas emergirem no debate. Além disso, ao que parece, nessa empresa quase não há uma coordenação das decisões, parece um sistema de administração em sistêmica, um paradigma que ascendeu na academia como uma vertente da teoria sistêmica da física, junto com os múltiplos equilíbrios e a teoria do caos.

É realmente, parece que essa empresa está na vanguarda. Mas antes de tomar essa conclusão, veja seu processo inovador de contratar seus CEO´s. Um processo muito complexo, baseado em relacionamentos que se afetam mutuamente, aonde fatores técnicos não são levados em conta. Nada mais moderno, a teoria científica da administração já se foi há muito tempo.

Aparentemente, esses CEO´s são trocados como se troca um técnico em um time de futebol, contudo, ao invés de se focar no resultado como critério, eles são trocados segundo a barganha política. Muitas das vezes, cada CEO é alguém que pouco conhece da função, ou que dá a mínima para os conhecimentos necessários para se chegar a tal posição em outras empresas. E dá certo, não dá?

O jogo das cadeiras dos ministérios e das empresas públicas, que servem apenas de barganha política é uma mancha etérea de nossa democracia. Não há como justificá-la sobre nenhum critério. É uma heresia para com os princípios constitucionais que regem a administração pública. Ao invés de se pensar na melhor forma de se jogar esse jogo, se faz mister acabar com esse jogo que só forma um vencedor e uma nação inteira de perdedores.

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