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Greve, porque não.

O ano de 2014 será marcado por inúmeras greves, e já mal começou houve greves de rodoviários, de algumas universidades federais, e agora dos garis. Todos os anseios ao que parecem é para que se melhorem os salários dessas classes de trabalhadores, como se cada um trabalhasse igual ao outro, e por isso mereçam perceber o mesmo salário, o que por si só já seria um erro. Contudo, a luta por um melhor salário para todos de fato é justa? E mais, é válida? Além disso, mereço um maior salário por quê?

Respondendo de trás para frente, o salário é o preço da sua oferta limitada de trabalho, que por lei é a compensação mensal por 40 horas de trabalhos semanais durante 1 mês. Se é um preço, ele estará baixo ou alto à medida que pessoas barganhem para lhe contratar. Caso ninguém mais o queira fazer, e se ficar desempregado não é uma opção, se você recebe um baixo salário o melhor a fazer é aumentar sua produtividade afim de que alguém perceba seu potencial. É mais ou menos o que faz um jogador em um time pequeno que visa o estrelato, ele não cruza os braços simplesmente por perceber uma baixa remuneração, ele, ao contrário, dá seu máximo afim de receber propostas de clubes melhores até atingir seu objetivo.

Aumentar o salário de todos por si só não e uma política econômica e nem administrativamente eficiente. Não é válida porque se existe pessoas que trabalhariam por um salário igual ou mais baixo, o motivo de aumentar o salário é apenas se a produtividade dos seus trabalhadores seja maior. Contudo, como trabalhadores diferentes possuem produtividades diferentes, aumentar o salário de todos não é uma boa política. Primeiro que você estará elevando salários de quem não merece, e segundo, quem de fato teve mérito e buscou melhorar sua produtividade não receberá uma compensação.

Temos que ficar alerta a esse tipo de discurso ideológico de luta de classes. No caso dos garis, sua exigência é de que tenham cursado até a quarta série do ensino fundamental, e eles recebem um salário inicial de R$ 802,53, com vale alimentação de R$ 360, mais insalubridade que aumenta o salário em 40%. Não acho muito, contudo, quanto será que um trabalhador que tenha apenas a 4ª série primária iria receber mensalmente? E mais, quantos não estariam dispostos a receber a mesma remuneração?

Veja a matéria abaixo: 

O concurso para 1,4 mil vagas de gari da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) do Rio de Janeiro recebeu, até a terça-feira (20), 109.193 inscrições. Entre os inscritos, 45 afirmaram ter doutorado, 22 mestrado e 80 pós-graduação, segundo registros da Comlurb. As inscrições encerram na sexta-feira (23). http://g1.globo.com/Noticias/Concursos_Empregos/0,,MUL1349960-9654,00-CONCURSO+PARA+GARI+NO+RIO+REGISTRA+INSCRICOES+DE+CANDIDATOS+COM+DOUTORADO.html

Por fim, acho justa a luta por uma condição decente de trabalho, como um médico que luta para poder passar remédios e exame aos seus pacientes, um professor que luta por melhores condições de local de trabalho, e mesmo um gari que luta pela sua integridade física na hora do seu trabalho, como os itens de proteção obrigatórios, uma jornada de trabalho que não o prejudique futuramente, e condições humanas e dignas. Mas, a luta por aumentar o salário pura e simplesmente, no meu entendimento, passa longe de ser algo meritório por si só.

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