O que é essa tese, e quem a defende:
Uma tese defendida por notórios acadêmicos, sendo o mais expoente dessa teoria o prof. Besser Perreira, é a de que o câmbio desvalorizado ajuda a industria nacional, correlacionando-se com isso, a valorização cambial ocorrida entre 2002 á 2012 - mesmo com momentos de pressão cambial - com a desindustrialização no período.
Além disso, deposita grande parte do sucesso na gestão econômica do primeiro governo Lula (2002-2006) ao patamar de 4 reais por dólar que vigorava no início da sua gestão. Com isso, cria-se um jargão de responsabilidade cambial, argumentando que, sem um cambio desvalorizado, ocorre uma perda de competitividade, e passamos a produzir menos do que consumimos, elevando as importações, promovendo déficit na balança comercial, e, por fim, reduzindo investimentos em um setor tão importante quanto a indústria (importante para quem?).
Antítese:
Quem discorda dessa posição lembra que, no Brasil, existe o sistema de metas de inflação ancorado no tripé macroeconômico de, câmbio flutuante, superávit primário e inflação controlada, e, portanto, o Banco Central necessita de independência para poder controlar a inflação via juros. Logo, não há como manter o câmbio artificialmente desvalorizado uma vez que quem controla o seu preço é o mercado em uma constante dança entre demanda por dólar (principalmente importadores e viajantes) e oferta de dólares (exportadores e investidores estrangeiros).
Além disso, a perda de competitividade da indústria não pode ser creditada apenas ao câmbio valorizado, pois, se fica caro nossas exportações e baratas as importações, os investidores estrangeiros são atraídos para o mercado brasileiro, para terem seus retornos na moeda nacional, que está forte. Como as decisões de investimento acontecem bem antes do ato consumado, uma moeda nacional forte, por um bom período, leva a desequilíbrios na balança comercial durante os primeiros anos, mas em seguida, com o aumento do investimento estrangeiro, gera aumento de oferta interna, o que gera aumento de competitividade, e por fim, queda nos preços, elevando-se com isso a quantidade produzida, e mesmo, as exportações.
Para finalizar, um país que importe muito mais do que exporta, caso o câmbio valorizado causasse tal desequilíbrio, iria, dentro de algum tempo, observar uma depreciação de sua moeda, uma vez que a entrada de divisa estrangeira seria menor do que a saída. E assim, a economia retornaria ao equilíbrio, com uma moeda nacional mais desvalorizada.
Fatos estilizados - o que vem acontecendo:
1 - Valores Absolutos
Analisando os dados do comércio brasileiro, temos o seguinte gráfico:
Percebe-se que, a partir de 2009, ocorre um aumento do stress ou da volatilidade da balança comercial brasileira, o que dificulta a formulação de expectativas de longo prazo confiáveis. Com a crise, provavelmente, o Brasil buscou novas soluções para exportar seus produtos, através de novos acordos como, por exemplo a aproximação cada vez maior do país com a China, Rússia e os demais membros dos Brics e de economias em desenvolvimento, como a Turquia, que teve um crescimento de 1000% em um período de 10 anos.
E se analisarmos de 2009 para cá, o saldo da Balança Comercial foi superavitário em mais de 1 bilhão por ano, no ano de 2015 essa média cai para menos de 1 bilhão, mas no mês de agosto o saldo ficou positivo em mais de 2,5 bilhões, e graficamente, pode-se perceber que talvez haja uma tendência de aceleração desse comportamento para os próximos meses, o que deverá gerar uma pressão de valorização cambial em algum determinado momento.
2 - Valores Relativos - desde 2010
Quando se compara a evolução do comércio brasileiro com o resto do mundo, percebe-se que ele não refletiu o aumento do PIB no período, que apesar de pequeno, foi durante o período próximos a 2%, enquanto o comércio, no mesmo período cresceu 11% e 34% em dólares, importações e exportações respectivamente, descontando-se a inflação, que nesses 5 anos, acumulada foi de 7% (PPI - índice de preços em dólar/USA), chega-se a um aumento anual médio de menos de 1% para as importações e de aproximadamente 5% para as exportações. Esse nível de comércio, somado, representa um aumento em 5 anos, real, de 11% - uma média de quase 2% ao ano.
Conclusão
Ao que parece, a desvalorização cambial promoveu uma melhora nos padrões de comércio brasileiro no comparativo entre exportações e importações. Contudo, o saldo da balança comercial está deficitário em 1,5 bilhão de dólares. Porém, comparando com o trimestre (Jun-Ago) do ano passado, o saldo foi de 0,31 bilhão, enquanto que em 2015, o saldo do mesmo trimestre saltou para 3,7 bilhões. Ou seja, a economia brasileira vem obtendo uma melhora no seu saldo no comércio internacional, e, o valor do retorno do índice industrial INDX11 apresenta em 2015 um retorno acumulado de 10,97%, mesmo com a tendência de queda nos indicadores de produção industrial apontado pela CNI. Portanto, os fatos parecem corroborar que o primeiro grupo estava correto.
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