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Pequenos milagres econômicos: regime de atuação dos professores universitários

Esse texto será o início de uma série intitulada pequenos milagres econômicos. Nela irei abordar questões que de tão simples, poderão ser implementadas de forma rápida. Não melhorarão o mundo de uma hora para outra. Terão um impacto limitado. Serão fáceis de serem implementadas. E por isso, são as mais críveis. 

É óbvio que a genialidade de um Plano Real, é somente palpável pelos impactos positivos para todos os agentes. Mas, não quero eu, sozinho inventar coisas mirabolantes e grandiosas. Furto-me a refletir diligentemente em coisas simples, porém, que sei que terão resultados positivos.

A primeira questão que gostaria de abordar, é uma que vivo e transpiro há mais ou menos 4 anos, o magistério superior público e a suas regras. Vivenciando iniquidades existentes no trato de várias questões, irei perfilar algumas questões importantes.

A primeira delas é a questão da Dedicação Exclusiva, que é alvo de tantas denúncias e reportagens. O tempo todo são pegos no "flagra" professores com DE atuando fora da universidade. Ou seja, médicos, engenheiros, economistas, advogados, administradores, fazendo outra coisa da sua vida, que não exclusivamente dando aula. Como se esses monstros ousassem em ter a capacidade de fazerem outra coisa fora dar aula. Tal perfil de professor deve ser execrado da universidade. Afinal de contas apenas quem sabe faz, e quem não sabe ensina......

Percebe-se a incoerência no pensamento e na própria formulação da lei que deveria, em tese, legislar em prol da qualidade do ensino superior público. Quando vamos à uma palestra de um profissional famoso, e que geralmente lota os lugares, não vemos este escondendo seu histórico profissional. E isso por uma boa razão. A trajetória profissional é uma das formas mais profícuas de se adquirir conhecimento, que de outra forma, seria de difícil absorção. Explicar coisas teóricas não tem o mesmo apelo e a mesma capacidade de fixação do que aliar a teoria à sua aplicação prática. E para isso o professor necessita de  experiência profissional.

Os cursos de MBA´s sabendo da importância da experiência divulgam amplamente que, em seu corpo docente, vigoram professores com experiência de mercado. 


Mas a universidade pública não quer isso. Cursos criados a partir do programa do REUNI que trouxe a universidade para o interior dos Estados, possibilitando que o aluno que não conseguia custear suas estadia nos grandes centros, pudesse desfrutar de uma universidade, também pensam assim. Esses cursos são os que, dentre todos, deveriam se preocupar muito mais com a assimilação dos seus alunos pelo mercado de trabalho. Pois estes, mais do que outros, possuem uma necessidade imensa disso. Porém, a maioria dos seus professores não possui nenhuma experiência profissional. São recém doutores, que passaram em concursos assim que terminaram seu doutorado, e portanto, são muito mais adeptos da atuação puramente acadêmica, do que profissional. Logo, essa conta não fecha.


A segunda questão é a cessão de professores para cargos no Estado. É permitido aos professores saírem de seus cargos e atuarem na administração pública, e escolhendo continuar sendo pagos pelo erário da universidade. Enquanto que, se um professor for convidado para administrar uma grande empresa, ou atuar na direção de uma multinacional, para tocar um projeto de sua aderência e expertise, este terá que declinar a oferta, se não quiser ser exonerado do cargo. Mesmo escolhendo ficar sem vencimento. Logo, em equilíbrio, os professores preferem se relacionar na política do que nas grandes empresas. O primeiro relacionamento traz inúmeras vantagens, enquanto o relacionamento com empresas privadas, não enseja nenhuma vantagem, só dores de cabeça administrativas.



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