O indexação é uma forma de proteger sua reserva de valor. Um jeito de poder manter constante o rendimento de uma operação. Principalmente quando esta envolve troca de valores futuros, que, por conta da inflação, correm o risco de se deteriorarem rapidamente, conforme os meses e os anos passarem.
A compra de bens de consumo duráveis e imóveis envolve, entre outras coisas, acordos de antecipação de receita para o lado do comprador, e postergação para o lado do vendedor. Para se protegerem da desvalorização da moeda (inflação) os agentes do lado da venda necessitam de instrumentos que lhe permitam atualizar o valor monetário dos fluxos de caixa futuros. Com isso a indexação se faz extremamente útil, pois sem ela, ninguém iria querer vender à prestação.
Porém, uma compra indexada gera, também, incertezas para o lado do comprador, uma vez que, ele não tem condições de, a priori, conhecer qual será a taxa que irá vigorar para a correção de suas prestações. Gerando com isso um desconforto aliado à incerteza de que, poderá estar entrando em um negócio que lhe promova prejuízos futuros.
Logo, mais uma vez, a indexação deve ser vista como um acordo entre agentes - assim como o preço - de forma a poder garantir a execução da troca de um bem ou serviço.
Contudo, se a inflação for previsível, como assim o seria em um sistema de metas inflacionárias críveis. Os agentes terão condições suficientes para pré-estabelecer uma taxa de correção monetária hoje que irá vigorar durante o período estipulado para o pagamento. Para isso, os agentes devem ancorar suas expectativas na taxa anunciada pela autoridade monetária. Esse tipo de modalidade de contrato, com juros pré-fixados atrai a preferência do consumidor, pois nele está incutido menos riscos para si. Do outro lado, o risco vai para a ponta vendedora do contrato. Mas se os ofertantes possuem crença na capacidade da política inflacionária fazer valer sua palavra, a indexação deixa de ser necessária.
No nosso contexto, perdeu-se completamente a verossimilhança no anúncio das metas inflacionárias. Portanto, os agentes que estão atuando com contratos pré-fixados na ponta vendedora estão, sem sombra de dúvidas, perdendo dinheiro, e muito! A diferença da inflação anunciada para a real está na casa dos 6 pontos percentuais. É mais do que o dobro da meta. Ou seja, o vendedor perde ao fazer um contrato, ancorando suas expectativas à meta, mais de 50% dos rendimentos providos pela atualização monetária. É muita coisa. E gera desincentivos para ele.
No equilíbrio, então, uma autoridade monetária que não possui a capacidade de controlar a inflação, promove uma indexação da economia. O que pode, no futuro, prejudicar e tornar ainda mais caro o combate à inflação. Uma vez que, via inflação inercial, se, digamos, um total de 25% dos preços na economia sejam indexados, os mesmos 25% da inflação passada será repassada para os preços no futuro e portanto, mesmo sem pressão inflacionária alguma (meios de pagamentos constantes), haverá inflação em T+1 pois, houve inflação em T.
Um mundo perfeitamente indexado gera, entre outras coisas, perda da capacidade de se controlar o recrudescimento inflacionário, pois a alta dos preços amanhã será a mesma de hoje, e com algum outro instrumento de pressão para a desvalorização da moeda, será ainda maior. O que promove uma espiral inflacionária, tornando a hiperinflação não mais uma questão política econômica, mas meramente uma questão de tempo.
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