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Resposta ao artigo do valor econômico

Para quem quiser ler primeiro, segue o link do artigo do valor econômico que se intitulou: Gasto Público por aluno é menor no ciclo básico.

Ao ler esse título o leitor tem a errônea impressão de que a matéria serviria para indicar que o Brasil deveria investir mais no ensino básico do que no ensino superior. Os repórteres Fabiana e Luciano talvez quisessem induzir o leitor a pensar assim. Contudo, ao ler o artigo inteiro, o leitor irá perceber que a medida que se inserem mais dados e opiniões dos pesquisadores na área, se observa que a conclusão é de que a péssima  qualidade do ensino público no Brasil está ligada há uma questão de gestão e não de nível de gasto público.

Os repórteres incluíram o seguinte gráfico na reportagem:
A comparação feita entre investimento em proporção do PIB e nível de gastos é falaciosa. Primeiro, escolheram países cujo PIB per capita é maior do que o Brasil, inclusive a Argentina.Os países mais pobres da comparação são Argentina e depois Portugal, cujos PIB's per capita são 18,200 e 25,305, enquanto que o do Brasil é apenas 11,909 dólares, dados do Banco Mundial. Ou seja, nossos ancestrais lusitanos possuem o dobro de renda anual que nós.

Sendo assim, seus gastos por aluno serão maiores dado o mesmo percentual do PIB. Contudo, se compararmos países mais pobres, como expostos neste meu artigo (http://pedrocamachosalvador.blogspot.com.br/2013/06/10-do-pib-para-educacao.html),
 iremos observar que os gastos do Brasil são acima da média desses, e mesmo assim eles apresentam melhores resultados educacionais, como Cazaquistão, Cuba, Paraguai, Bolívia, Equador...(veja http://www1.folha.uol.com.br/saber/882676-brasil-fica-no-88-lugar-em-ranking-de-educacao-da-unesco.shtml)

Sendo assim, a proposta de se gastar mais com educação básica para melhorar a qualidade da educação me parece inadequada, pois é capaz de aumentarmos ainda mais os incentivos de desvios, fraudes e má alocação de recursos, o que poderia em tese, reduzir ainda mais a qualidade da educação no Brasil.

Além disso, em comparação com a média mundial, gastamos pouco com o ensino superior, veja:
O próprio título do artigo sugeriria que teríamos que inverter a conta, gastar mais com o ensino básico, em detrimento do ensino superior. Como professor universitário posso atestar a má qualidade do ensino público superior brasileiro, há uma péssima alocação de recursos e um corporativismo que impede o caminho em direção a eficiência. Se todos os professores 40h/de fossem obrigados a bater ponto, posso garantir que não haveria espaço para eles ficarem na universidade....

Destarte, a resposta de efetuar apenas uma realocação de gastos sem mexer nos problemas nevrálgicos parece uma pessoa que quer resolver um cubo mágico apenas pintando os lados com a mesma cor.

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