Pular para o conteúdo principal

Plano Real: Para mim só se concluiu em 2000.

O derradeiro plano econômico que conseguiu vencer a inflação brasileira merece seus créditos, e, portanto, não irei esperar sua data de aniversário, 30 de Junho, para tecer comentários sobre o que segundo muitos foi o mais exitoso plano econômico da história do país. Seus êxitos vão muito além de controlar a inflação, pois também pois fim a uma trajetória crescente da desigualdade social, permitiu o crescimento econômico com estabilidade, e conseguiu fazer com que a economia brasileira pudesse atravessar 3 crises econômicas externas (México, Rússia e Tigres Asiáticos), além de crises geradas internamente como a do Apagão e a do Pré-Lula e uma mais geral criada pelo 11 de Setembro, sem abandonar seu zelo pelo controle da inflação.

Mas, a equipe do Plano Real não era uma equipe vitoriosa atoa, seus componentes: Pérsio Arida, Edmar Bacha, André Lara-Resende e Gustavo Franco, participaram no pífio Plano Cruzado liderado por Dilson Funaro. Logo, aprenderem na pele que um controle de preços baseados no congelamento não tinha mais eficácia. A grande diferença entre os dois planos, Cruzado e Real foi o abandono da heterodoxia convencional, com seus congelamentos de preços, a lógica do plano Real seria aquela publicada por Arida e Lara-Resende em 1984. Existiria um período de tempo em que duas moedas circulariam, a antiga e uma indexada à taxa de real de câmbio externa.

O Plano Real evoluiu em três fases:
1- Compromisso fiscal (obviamente sem austeridade fiscal não há como controlar a inflação)
2- Introdução da URV
3- Conversão da URV pelo real.

Quando ocorreu a conversão, a inflação praticamente tinha sido vencida, bastava manter o compromisso fiscal. Além disso, as reservas internacionais permitiam segurar por um período o câmbio fixo. O que para muitos foi um erro, pois, o certo seria utilizar as políticas fiscais e monetárias como âncora para não deixar a inflação subir, e não uma taxa de câmbio semifixa, como foi feito.

Para mim, o plano real só terminou de ser aperfeiçoado com o regime de metas de inflação e, principalmente depois de aprovada a LRF em 2000. Blanchard (2004) adverte para o perigo do regime de metas de inflação sob o ponto de vista de que o Banco Central não pode atacar sozinho a inflação subindo os juros, pois, se o lado fiscal não ajudar, a dívida pode crescer de forma exacerbada, pressionando o risco país, que pressiona o câmbio, que pressiona a inflação e entra-se em um ciclo vicioso. Por isso, a defendo a teoria da conclusão do Plano Real apenas em 2000 com a LRF.

Mas, com o advento da contabilidade criativa, que era restrita apenas a empresas privadas que queriam ludibriar o mercado de forma que o controlador levasse alguma vantagem pela a assimetria informacional criada, por parte do Governo e das empresas estatais com o aval do Tesouro Nacional em 2012, e agora, com as mudanças feitas na Petrobrás, devido a alta do dólar. Corremos um sério risco de que a LRF não seja mais ativa, e voltamos a correr um grave risco de um ciclo vicioso.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Porte de Armas: equilíbrio pareto ineficiente

A segunda emenda americana data de 1791, ou seja, final do século 18. Nessa data, as armas existentes não passavam de 1 tiro por vez. A invenção do revolver ocorreu em 1836 por Samuel Colt. Logo, a ideia do uso de armas para proteção e utilização para fins recreativos se deu em um contexto muito diferente do atual, onde armas como metralhadoras automáticas, permitem facilmente mais de 100 disparos com uma única arma sem a necessidade de recarregar. As armas são um importante instrumento de auto-defesa. Principalmente em um contexto no qual a segurança e a vida das pessoas estão à mercê de sociopatas e criminosos. Contudo, as armas que são utilizadas para a defesa à vida, podem ser utilizadas para ceifá-la. Para se ter uma ideia, olhe em baixo o perfil de armamentos que existiam na época da liberação das armas e analise e compare com os padrões de armamentos modernos. As duas imagens mostram um contexto totalmente desconexo um do outro. Enquanto que um indivíduo armado

Marcadores