Pular para o conteúdo principal

Pouco tempo, muito assunto [x2]: indexação e orçamento impositivo

Na pauta de hoje: a volta da indexação e a aprovação do orçamento impositivo. Primeiro irei falar deste. O orçamento impositivo será um ganho para a democracia, mas uma derrota para o Executivo. Bom, estarei sempre do lado da democracia. A aprovação de ontem faz com que as emendas e propostas de parlamentares aprovadas ocorram e sejam pagas sem a aprovação do executivo. A necessidade dessa aprovação, faz com que o Legislativo seja um fantoche, e, nas palavras da Presidenta, seja "indissociável" do Executivo. Só faz o que o Executivo manda. E como esta característica da democracia brasileira é rechaçada por 9,5 de 10 pessoas perguntadas, acredito que será benéfica para a democracia.

Contudo, o orçamento do governo já está estourado, a meta de 2.3% do PIB de superávit primário só irá ser atingida se contratarmos Júlio Verne para mais uma rodada da contabilidade criativa. E dessa vez, teremos que ir mais fundo do que apenas 20 mil léguas submarinas. Quem sabe uma viagem ao centro da terra, deixando alguns de nossos mais célebres gestores por lá, possa trazer algum ganho ao se utilizar tamanha criatividade.

A indexação está sendo amplamente empregada e, pior, está em um crescente. Os aluguéis foram os primeiros a se defenderem da inflação, indexando-se ao IGPM, contudo, com o mercado aquecido, os novos contratos firmados estão se valorizando acima da inflação, logo, a indexação do aluguel não é vilão. Porém, ao se desrespeitar continuamente às metas inflacionárias, o mercado passa a não mais acreditar naquele valor, que agora se torna simbólico. E, como ninguém gosta de risco, preferem se prevenir de perdas futuras através de contratos indexados.

Essa prática já alcançou o salário mínimo, que parece uma ressuscitação do Gatilho Salarial do Plano Cruzado, e foi proposto pelo próprio governo, o que é um verdadeiro tiro no pé. Bom, o salário mínimo é um índice bastante utilizado no reajuste salarial de algumas profissões, e, portanto, acaba sendo um potencializador da inflação, e principalmente, com um país crescendo menos do que no passado, a regra de reajuste está minando a economia via aumento de custos.

Agora temos pressões de indexação entre as petrolíferas e pelo seguro desemprego. Bom, caso isso aconteça será preciso um Plano Real 2 para salvar a economia da inflação, pois, o petróleo é o insumo básico da economia. Quase todas as estruturas de custos está atreladas, de alguma forma, ao petróleo, e caso seu preço seja indexado à inflação, quase toda a estrutura econômica assim ficará.

É preciso pulso firme para vetar esse pleito das petrolíferas, que, por sinal, vieram de livre e espontânea vontade investir no Pré-sal, mesmo com  um leilão marcado por um regime atrasado, e pelo regime de partilha, que divide os lucros e também os riscos com a Petrobrás, que, nos últimos 5 anos, está mal das pernas.

Se tiverem tempo, leiam a opinião sóbria de Renan Calheiros (eu disse isso mesmo?!) sobre a agenda da reforma política. De fato, é preciso mudar esse sistema para 2014, sob pena de termos uma instabilidade política sem precedentes caso nada seja feito. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A regra do 69

Uma pergunta simples ronda os mais curiosos sobre investimentos: quanto tempo demorará para que eu dobre meu capital investido. Ou seja, se eu coloco 100 reais hoje, ou um múltiplo, quanto tempo terei que esperar para meu capital dobrar? Alguns textos mostram de forma rápida a chamada regra do 72, que significa simplesmente que o tempo será T=72/taxa, ou seja, suponha que a sua taxa de juros real hoje seja de 14.15% ao ano (selic), por essa regra, o tempo que você irá demorar para dobrar seu capital é de 72/14.15, que é igual a 4,96 anos. Mas como chega-se a esse resultado? A conta é simples, e está indicada abaixo. Porém a regra não é do 72, é do 69... Portanto, tem-se uma regra bastante prática para calcular um valor bastante intuitivo. O quanto eu preciso esperar para que meu capital dobre, a uma dada taxa de juros. Felizmente, no Brasil vivemos um regime de taxa de juros elevada, porém, geralmente a conta é contrária: "quanto tempo devo esperar para que a

Como combater a inflação inercial (indexação)

O indexação é uma forma de proteger sua reserva de valor. Um jeito de poder manter constante o rendimento de uma operação. Principalmente quando esta envolve troca de valores futuros, que, por conta da inflação, correm o risco de se deteriorarem rapidamente, conforme os meses e os anos passarem. A compra de bens de consumo duráveis e imóveis envolve, entre outras coisas, acordos de antecipação de receita para o lado do comprador, e postergação para o lado do vendedor. Para se protegerem da desvalorização da moeda (inflação) os agentes do lado da venda necessitam de instrumentos que lhe permitam atualizar o valor monetário dos fluxos de caixa futuros. Com isso a indexação se faz extremamente útil, pois sem ela, ninguém iria querer vender à prestação. Porém, uma compra indexada gera, também, incertezas para o lado do comprador, uma vez que, ele não tem condições de, a priori, conhecer qual será a taxa que irá vigorar para a correção de suas prestações. Gerando com isso um desco

O elefante e o circo e os investimentos em educação

Para cada 1 real investido, se tem como retorno R$ 4,88. Talvez uma das tarefas mais dispendiosas de um dono de circo seja treinar um elefante. O animal é extremamente forte, pesado (óbvio), come muito e difícil de lidar. Contudo, quase todo circo possui um elefante em seus números de adestramento. O porquê não é difícil de entender. O animal vive mais de 70 anos, e possui a maior memória entre os mamíferos terrestres. Portanto, a pesar do elevado custo de ensiná-lo, e de alimento e etc, o investimento inicial uma vez sendo implementado, o paquidérmico renderá 70 anos de shows impecáveis. A comparação pode parecer esdrúxula para alguns, mas o mesmo acontece ao ser humano, principalmente na primeira infância. A nossa capacidade de aprendizado é muito grande entre 2 e 5 anos, e podemos ter nossas habilidades cognitivias e socioemocionais impactadas de maneira bastante significativa. Obviamente não se faz mister que todas as crianças tenham pré-escola, mas o estimulo diário ao co

Marcadores